País vizinho

Paraguai: atos contra o governo por má gestão da pandemia chegam ao sétimo dia seguido

Trabalhadores da saúde, estudantes, movimentos sociais, camponeses e povos indígenas afirmam que só vão parar os protestos quando o presidente Mario Abdo Benítez e todo o seu governo forem destituídos

Reprodução/Twitter
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Manifestantes protestam desde a última sexta-feira contra o presidente e sua má gestão da pandemia

São Paulo – Os atos contra o governo do Paraguai entraram hoje (11) em seu sétimo dia seguido. Pelas redes sociais, os manifestantes convocaram a população para mais um dia de luta contra o presidente Mario Abdo Benítez, do partido Colorado, e sua má gestão da pandemia.

Desde a última sexta-feira (5), manifestantes saem às ruas com bandeiras e cartazes com mensagens contra o governo pedindo a renúncia de Benítez. A crescente onda de protestos começou no centro da capital, Assunção, com forte repressão policial. Mais de 20 pessoas foram feridas por balas de borracha. Alejandro Daniel Florentín, de 32 anos, que participava da manifestação, foi assassinado pela polícia.

Ontem, a bancada da Frente Guasu, que reúne os partidos progressistas do Paraguai, pediu ao Senado que peça esclarecimentos ao Ministério do Interior sobre a utilização de balas de borracha utilizadas para reprimir manifestações legítimas.

Organizadas por trabalhadores da saúde, movimentos de oposição ao governo e familiares de vítimas da covid-19, as manifestações têm tomado as ruas da capital e de outras cidades do Paraguai que se somam à mobilização. Além disso, têm atraído a participação de povos indígenas e camponeses.

Também hoje, um grupo de manifestantes montou uma tenda na Praça das Armas, nas imediações do Congresso paraguaio. “Seguiremos acampados até que o presidente da República e o vice sejam destituídos”, disse um dos ativistas à emissora de TV ABC.

Colapso da saúde

Assim como o Brasil, o país vizinho que faz fronteira com os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul vive uma escalada de casos de covid-19 nas últimas semanas com cerva de 1,5 mil notificações diárias de novos casos. Aumentou rapidamente a procura por internações e faltam leitos. Até aqui, são 3,4 mil mortos paraguaios mortos por covid e 175 mil contaminados.

Com mais de sete milhões de habitantes, o país tem um sistema público de saúde deficiente, do qual dependem mais de 70% da população. No começo da pandemia no país, há cerca de um ano, o governo fechou fronteiras e vinha até sendo elogiado por vizinhos.

No entanto, quando as medidas preventivas foram relaxadas, a situação mudou. Amigo do presidente Benítez, o então ministro da Saúde, Julio Mazzoleni, foi alvo de denúncias de corrupção envolvendo compra de vacinas. Os escândalos alimentaram os movimentos oposicionistas e populares.

Alternativas

Em manifesto divulgado ontem, a frente de partidos progressistas afirma que é legítima a indignação da população contra a profunda crise política, social, sanitária e econômica causada por “um governo incapaz, irresponsável e rodeado por fatos de corrupção”.

“Consideramos que estas mudanças são urgentes e necessárias, para reconduzir a institucionalidade da nossa República. No entanto, nós dissemos que essas mudanças deveriam ser o início de um processo de mudança mais profundo, sobre um modelo econômico esgotado, e que deve ter como ponto de início uma série de ações de emergência para atenuar o drama social que a população sofre”, diz trecho de manifesto.

A frente reivindica a renúncia de Benítez e seu vice, Hugo Velázquez, e a convocação de eleições nos prazos constitucionais. E apresenta sete propostas à crise, como a provisão permanente medicamentos e insumos médicos gratuitos para toda a população e a aquisição de vacinas para ser administrada a toda a população de maneira gratuita – conforme direito constitucional à saúde gratuita.

Outras revivindicações são a suspensão de despejos das famílias paraguaias indígenas, camponesas e dos assentamentos e o início de um processo que resolva definitivamente este problema estrutural; além da recuperaç~~ao da soberania energética sobre Itaipú e Yacyretá.

Apoiadores do presidente

Assim como o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que apesar da má gestão de seu governo especialmente sobre a saúde tem seus apoiadores, Mario Abdo Benítez também não está sozinho. O Comando Nacional de Funcionários Públicos Colorados suspenderam hoje, temporariamente, uma “grande caravana pacífica e republicana” que fariam nesta sexta-feira (12) em apoio a Benítez.

O próprio presidente paraguaio pediu que sejam evitados quaisquer tipos de manifestações públicas para evitar aglomerações e assim evitar o contágio pelo novo coronavírus.

O partido Colorado está no poder há praticamente 70 anos. Em todo esse tempo, o país não avançou em políticas de saúde pública. O governo do Paraguai investe em saúde apenas 3% do PIB, metade do recomendado pelo Organização Mundial da Saúde (OMS). Por isso não há hospitais suficientes, nem insumos e profissionais de saúde

Na última sexta-feira (5), quando tiveram início as manifestações, Mazzoleni deixou o comando da pasta. No sábado, foi anunciada a saída de três outros ministros. O presidente Benítez chegou a informar que todos os demais colocariam seus cargos à disposição.

Banner que circula pelas redes sociais. (Foto: Twitter)