2º turno no Equador

Eleição de Andrés Arauz no Equador pode confirmar retomada progressista na América Latina

Em meio a indefinição, candidato de esquerda vê vantagem aumentar e aguarda recontagem de votos para saber quem enfrentará no 2º turno

Télam
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Candidato do ex-presidente Rafael Correa garantiu o segundo turno com 32,07% dos votos

São Paulo – A eleição presidencial no Equador terá segundo turno. Mas, até o momento, o candidato Andrés Arauz, da Coalizão União pela Esperança, é o único confirmado. A próxima etapa da disputa eleitoral está prevista ocorrer em 11 de abril. Por volta das 16h, da última sexta-feira (12), às 18h no horário de Brasília, com 99,96% das urnas apuradas, o progressista se consolidou ao segundo turno, com a maior vantagem, de 32,07% dos votos. 

De acordo com a autoridade eleitoral do país, o ex-banqueiro Guilheme Lasso, candidato de direita pela Aliança Creo-PSC, assumiu o segundo lugar na disputa, com 19,74% dos votos. Passando à frente do líder indígena e ambientalista Yaku Pérez, do Movimento de Unidade Plurinacional Pachakutik (MUPP-18). A diferença entre os candidatos, no primeiro turno das eleições, realizado no dia 7 de fevereiro, era muito pequena. Yaku Pérez teve 19,38% dos votos, mas o presidenciável de direita ampliou sua vantagem durante a semana, e assumiu o segundo lugar das eleições. 

Sem provas, o candidato do Movimento Pachakutik, acusou fraude no resultado e pediu às autoridades que os votos fossem recontados. Lasso concordou com o pedido que foi acatado e aberto na sexta pelo Conselho Eleitoral. A recontagem será parcial e considerará os votos de 17 das 24 províncias do país. A previsão é que o resultado seja divulgado nesta quarta (17). 

Retomada progressista

Caso o segundo lugar seja confirmado a Lasso, a situação eleitoral de Andrés Arauz será mais vantajosa, na avaliação do jornalista e fundador do site Opera Mundi, Breno Altman. Em entrevista ao programa Revista Brasil TVT, o analista observa que Arauz poderá atrair parte importante do eleitorado de Yaku Pérez. O líder indígena é visto como progressista, apesar de, segundo Altman, ser “profundamente reacionário”, principalmente em suas posições internacionais. Pérez apoiou, por exemplo, os golpes contra os ex-presidentes Dilma Rousseff (PT), no Brasil, e Evo Morales (MAS), na Bolívia

A previsão também é que Arauz herde os votos de Javier Hervas, representante da Esquerda Democrática que obteve 16% dos votos. E, embora seja parte da social democracia, fez uma campanha sem se identificar com as velhas oligarquias equatorianas, atraindo os votos progressistas, como comenta o jornalista. Ao todo, 16 candidatos concorreram no primeiro turno, mas as três forças à esquerda foram as mais representativas. 

Andrés Arauz também tem parte da preferência por ser o candidato apoiado pelo ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017). Para Altman, a consolidação do candidato de esquerda confirma um rearranjo das forças políticas na geografia latina. “Eu creio que está girando o pêndulo da política latino-americana novamente para a esquerda. Há fortes sinais de retomada de uma ofensiva progressista na América Latina”, destaca o jornalista. 

Reação internacional

Não à toa, embora o Equador atravesse a indefinição quanto ao candidato que participará do segundo turno, a disputa eleitoral já é marcada por fake news contra o candidato de esquerda. Neste domingo, Arauz recebeu a acusação de ter recebido um empréstimo do Exército de Libertação Nacional, uma das guerrilhas colombianas que ainda não se integrou ao acordo de paz proposto em 2016. 

Uma reação contra a retomada progressista também é prevista por parte do governo de Joe Biden dos Estados Unidos. “Embaixadas e agências estadunidenses serão usadada à serviço das forças de direita para derrotar partidos de esquerda ou para desestabilizar governos progressistas na região. Não se pode ter nenhuma ilusão com Biden a esse respeito”, diz o jornalista. “Há um jogo pesado que já começa a ser feito contra Arauz. Guilherme Lasso tem muito dinheiro e recurso midiático, então será uma guerra.”

E Lenín Moreno? 

Qualquer que seja o resultado em abril, segundo Altman, o maior derrotado é o atual presidente do Equador, Lenín Moreno, pois sai como um “peso morto” do cenário eleitoral. Ex-candidato de Correa, Moreno teve seu mandato marcado por uma guinada à direita que levou o país a resultados econômicos “desastrosos”, de acordo com o fundador do Opera Mundi. “Tal qual o presidente Jair Bolsonaro, ele também foi incapaz de enfrentar a pandemia”, acrescenta, em referência às cenas de colapso do sistema funerário no ano passado. 

“Moreno opera com o pouco que resta de forças para apoiar qualquer candidato que derrote András Arauz, porque ele sabe que a vitória dele seria sua derrota e desmoralização definitivas. Mas ele não tem mais presente e certamente nem mais futuro”, ressalta Breno Altman. 

Confira a entrevista 

Redação: Clara Assunção


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