VIDAS EM JOGO

Catar: 6.500 trabalhadores migrantes morreram desde o início da preparação para a Copa do Mundo

Com grandes construções em ritmo acelerado, registros de óbitos no país pode crescer ainda mais

Kremlin
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Desde que foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2022, o Catar criou um grande programa de construção, que envolve sete novos estádios e uma nova cidade

São Paulo – Cerca de 6.500 trabalhadores migrantes morreram no Catar desde o anúncio do país como sede Copa do Mundo de 2022. De acordo com o jornal britânico The Guardian, em reportagem publicada nesta quarta-feira (24), a maioria das vítimas vem da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka.

As mortes ocorreram desde dezembro de 2010, quando o país foi escolhido pela Fifa, entidade que organiza o torneio. Segundo fontes governamentais, a média é de 12 trabalhadores migrantes destas cinco nações do sul da Ásia mortos todas as semanas.

O The Guardian revela que a Índia, Bangladesh, Nepal e Sri Lanka apontam a morte de 5.927 trabalhadores no período de 2011 a 2020. Já a embaixada do Paquistão no Catar relatou mais 824 mortes de paquistaneses entre estes anos. O número deve ser ainda maior, de acordo com o jornal, pois outros países, como Filipinas e Quênia não divulgaram seus dados.

Construções de risco

Desde que foi anunciado como sede do Mundial, o Catar criou um grande programa de obras que envolve a construção de sete novos estádios, um novo aeroporto, criação de estradas, ampliação do transporte público e hotéis. Uma nova cidade, que sediará a final da Copa, também foi construída.

Nick McGeehan, diretor da FairSquare Projects, grupo de defesa internacional especializado em direitos trabalhistas, acredita que, embora os registros de óbitos não sejam categorizados por ocupação ou local de trabalho, é provável que muitos trabalhadores que morreram foram empregados nestes projetos de infraestrutura da Copa do Mundo.

“Uma proporção muito significativa dos trabalhadores migrantes que morreu desde 2011 estava no país apenas porque o Catar ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo”, explicou ao The Guardian. A comissão organizadora do torneio diz que ocorreram 37 mortes de trabalhadores diretamente ligadas à construção de estádios para a Copa, dos quais 34 foram classificados como “não trabalhistas”.

As obras da Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, também tiveram suas vítimas. Ao todo, 10 operários morreram durante a construção dos estádios – dois dele na Arena Corinthians. Durante os preparativos para o torneio de 2010, na África do Sul, dois trabalhadores morreram durante o trabalho.

Catar 2022

O The Guardian mostra ainda que o número de mortos no Qatar é revelado em longas planilhas de dados oficiais listando as causas das mortes: vários ferimentos contundentes devido a uma queda de altura; asfixia por enforcamento; causa indeterminada de morte devido à decomposição.

O governo do Catar não contesta o número de mortos e diz que é proporcional ao tamanho da força de trabalho migrante, estimada em 2 milhões no país. “A taxa de mortalidade nessas comunidades está dentro da faixa esperada para o tamanho e a demografia da população. No entanto, cada vida perdida é uma tragédia e nenhum esforço é poupado na tentativa de evitar todas as mortes em nosso país”, disse o governo local ao jornal.

May Romanos, pesquisador do Golfo para a Anistia Internacional, afirma que “há uma falta real de clareza e transparência em torno dessas mortes” e defende que o Catar “fortaleça seus padrões de saúde e segurança ocupacional”.