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Após invasão do Capitólio, Trump pode sofrer impeachment

Além dos pedidos de impeachment, parlamentares e empresários pedem a 25ª Emenda da Constituição para afastar o presidente dos EUA

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Em discurso, Trump estimulou apoiadores a marcharem contra o Congresso

São Paulo – Representantes do Partido Democrata devem apresentar pedidos de impeachment contra o presidente Donald Trump. Eles acusam o presidente de ter incitado os manifestantes que invadiram o Capitólio, em Washington, nesta quarta-feira (6). Muitos parlamentares, inclusive do próprio Partido Republicano, consideram que Trump não teria mais condições de comandar o país até o dia 20 de janeiro, quando deve ocorrer a posse do presidente eleito, Joe Biden.

Outra possibilidade seria invocar a 25ª Emenda à Constituição americana. De acordo com esse dispositivo, a maioria do próprio gabinete presidencial, em comum acordo com o vice, Mike Pence, poderia decretar o afastamento de Trump. Tal medida teria o apoio, inclusive, de parte do empresariado norte-americano.

Para o consultor e analista internacional Amauri Chamorro, a possibilidade de abertura de processo de impeachment contra Trump é real, em função da maioria democrata nas duas casas. Seu afastamento teria que ser autorizado, por maioria simples, pela Câmara dos Representantes. Mas, para ser aprovado, precisaria de maioria qualificada (dois terços) no Senado.

“Acho que essa possibilidade é real. Primeiro, a gente tem um Congresso com maioria democrata pela primeira vez em dez anos. Segundo, há insatisfação de amplos setores da burocracia do Partido Republicano, que repudiaram a postura de Trump, acusando-o inclusive de incendiar a multidão para que invadisse o parlamento. Muito provavelmente eles se unam a esse processo de impeachment do presidente Trump”, disse Chamorro, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (7). O analista lembra, ainda, que Trump, apesar da sua força política, é um “outsider” entre os Republicanos.

Ações

Ilhan Omar, de Minnesota, e Ayanna Pressley, de Massachusetts, são alguns exemplos de representantes democratas que devem apresentar pedidos de afastamento do presidente. Por outro lado, Ted Liu, da Califórnia, pediu ao vice, Mike Pence, que remova Trump. Caso a 25ª Emenda seja invocada, Trump poderia recorrer. A decisão, então, também dependeria da aprovação de dois terços dos senadores.

Além disso, funcionários do primeiro escalão do governo já renunciaram. Foi o caso da atual chefe de gabinete e secretária de imprensa da primeira-dama Melania Trump, Stephanie Grisham. E também da secretária de imprensa adjunta da Casa Branca, Sarah Matthews. O secretário social da Casa Branca, Rickie Niceta, é outro nome que também renunciou nesta quarta-feira (6).

Novo normal

Chamorro viu como “natural” a invasão do Capitólio pelos apoiadores de Donald Trump, inclusive com a participação de indivíduos armados. Segundo ele, o episódio não surpreende, porque invasões como esta se repetiram nas assembleias legislativas estaduais, por pelo menos uma dezena de vezes, desde as eleições em novembro, sem que houvesse reação das autoridades.

Ele também destacou a diferença de tratamento das forças policiais em relação às milícias trumpistas. Ele comparou com a forte repressão ocorrida em protestos convocados pelo movimento Black Lives Matter, que luta contra o racismo e a violência policial. “A gente vê o cara com uma roupa de búfalo, sem camisa, com a cara pintada, como um personagem de filme de comédia, sentado na cadeira do presidente do Congresso dos Estados Unidos, rindo, brincando. Uma coisa bizarra, e ninguém tirou ele”.

Por outro lado, Chamorro condenou as atitudes tomadas pelas redes sociais – como Facebook e Twitter – que chegaram a censurar mensagens do presidente Trump. Segundo ele, essas empresas não podem agir como “tribunais”, por mais radicais e absurdas que sejam as posturas do presidente. “Trump é reflexo da grande maioria da sociedade estadunidense, que é racista”, afirmou.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima


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