ÁECIO NEVES 2.0

Sem aceitar derrota para Biden, Trump deve criar instabilidade nos EUA

Com derrota cada vez mais próxima, republicano diz que vai à Justiça contra resultados das urnas

Gage Skidmore
Gage Skidmore
Trump aposta no Judiciário americano, que ele modulou nos últimos quatro anos, para conseguir vitórias nos tribunais de apelação

São Paulo – O candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, está próximo de conquistar a vitória na eleição à presidência dos Estados Unidos, de acordo com as projeções da imprensa norte-americana. As últimas apurações apontam que Biden vencerá nos determinantes Wisconsin e Michigan, o que levaria aos 264 dos 270 votos que precisa no Colégio Eleitoral. Entretanto, com a derrota cada vez mais próxima, Donald Trump, candidato à reeleição pelo partido Republicano, pode criar uma instabilidade no processo eleitoral no país. Trump promete entrar com uma ação na Justiça para tentar suspender a contagem de votos em alguns estados, além de solicitar a recontagem em outros. Nas redes sociais, ele acusa o processo eleitoral, que o elegeu em 2016, de “fraudulento”.

Trump aposta no Judiciário americano, que ele modulou nos últimos quatro anos, para conseguir vitórias nos tribunais de apelação locais. O atual presidente foi quem mais nomeou juízes federais, somando um quarto dos magistrados que estão na ativa.

Para o consultor em relações internacionais, Kjeld Jakobsen, tudo indica que o vencedor só deverá ser conhecido oficialmente em dezembro. De acordo com o especialista, isso dará tempo para Trump buscar a vitória no “tapetão”.

“O resultado eleitoral mostra uma sociedade bastante dividida. Não é comum um presidente concorrer à reeleição e perder. Há apenas três casos na história. Por isso, Trump começou a questionar o resultado eleitoral como seu plano B, quando viu o risco de perder, principalmente nos estados que venceu em 2016. O Trump não aceitar o resultado das urnas cria uma instabilidade política no país”, analisou, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Indefinição nos EUA

Logo na terça-feira (3), após o início da apuração, Trump já agitava os bastidores da eleição dos Estados Unidos, ao se autodeclarar vitorioso na corrida presidencial. Líder no começo da apuração, o atual presidente viu sua vantagem derreter, após a contagem dos votos que vieram por cartas – prática mais utilizada por eleitores democratas.

Agora, com três estados que haviam ficado com Trump em 2016, Biden só precisava vencer em um dos outros quatro que ainda seguiam indefinidos na noite desta quarta para ser alçado à Casa Branca: Pensilvânia, Nevada, Geórgia ou Carolina do Norte.

Para Kjeld Jakobsen essa indefinição do vencedor nos Estados Unidos, somado a possibilidade de uma transição pacífica de governo, pode criar problemas externos. Ele lembra que o ministro da Defesa da Alemanha, Annegret Kramp Karrenbauer, expressou preocupação com uma “situação muito explosiva” nos Estados Unidos. “O resto do Mundo, quando for discutir num fórum global, precisa saber com quem vai debater, se será com o atual presidente ou o futuro”, alerta o consultor.

Jakobsen acrescenta ainda que a derrota de Trump levará o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, a uma “tarefa árdua” para reconstruir a relação com os Estados Unidos. “O Brasil não estabeleceu uma relação com o país, mas com a fração partidária de extrema-direita de lá, sem qualquer tipo de vantagem para nós. Aceitamos importar etanol, as sobretaxas sobre o alumínio, entre outras coisas. Não ganhamos nada economicamente, nem politicamente”, finalizou.


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