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No Canadá, senadora é suspensa por textos racistas em site pessoal

Conservadora Lynn Beyak se recusou a apagar textos racistas e está suspensa até realizar um curso de cultura indígena. Ela não vai mais receber salário

Reprodução/CBC Canadá
Reprodução/CBC Canadá
A senadora conservadora Lynn Beyak, punida pelo parlamento canadense por publicar textos racistas em seu site

São Paulo – Por publicar em seu site pessoal textos racistas contra os povos indígenas canadenses, recebidos de seus apoiadores, a senadora conservadora Lynn Beyak, representante de Ontário, foi suspensa pela segunda vez e não vai mais receber salário (de 13 mil dólares canadenses, aproximadamente R$ 43 mil) até o final da atual legislatura.

Lynn Beyak terá de fazer um curso sobre a cultura dos povos originários do Canadá, antes de retornar ao legislativo. A punição foi aplicada pelo Comitê de Ética do Senado Canadense, mesmo após ela pedir desculpas públicas, na última terça-feira (25).

As cartas com textos racistas que Beyak publicou foram enviadas por apoiadores, após um discurso que a senadora fez em 2018, no qual ela argumentava que as escolas residenciais eram muito úteis para as crianças indígenas.

Essas escolas surgiram no final do século 19. Eram uma parceria do governo com igrejas e funcionavam como internatos onde a cultura dos povos originários era sistematicamente negada. E onde milhares dessas crianças sofreram abusos físico e sexual e morreram de doenças e desnutrição, segundo informações da Comissão da Verdade e da Reconciliação do Canadá.

Diferente do Brasil, onde se tornou frequente o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e outros parlamentares de extrema-direita emitirem opiniões racistas, machistas ou preconceituosas e depois alegarem liberdade de expressão, no Canadá esse tipo de conduta custa caro.

A senadora Lynn Beyak alegou privacidade e liberdade de expressão, mas o argumento não foi aceito. Ela já havia sido punida no ano passado pelo mesmo motivo e foi expulsa do Partido Conservador. Com as eleições ocorridas em outubro, seu processo foi extinto. Ela foi reeleita.

Como ela manteve as publicações em seu site, o Comitê de Ética do Senado recomendou que a senadora fosse novamente suspensa, pois ela não cumpriu as condições estabelecidas pelo Senado no ano passado.

Para retornar à casa, em 2019, ela devia fazer um pedido de desculpas formal e público, remover as cartas racistas do site e participar de um curso sobre a cultura dos povos indígenas.

Os senadores consideraram que o pedido de desculpas feito por Beyak à época foi superficial. E ela demonstrou insensibilidade no curso sobre a cultura dos povos indígenas. A Federação de Centros de Amizade Indígena de Ontário a excluiu do curso após constatar que a senadora não tinha interesse em repensar suas opiniões racistas. O próprio legislativo acabou fazendo a exclusão das postagens.

Desde 1996, o Canadá vive um processo de tentativas de reconciliação com os povos indígenas, mas ainda de muita violência e discriminação. Um relatório lançado no ano passado pelo governo do primeiro-ministro Justin Trudeau admite que o país foi cúmplice de um genocídio racial contra mulheres e meninas indígenas e propõe 200 recomendações de ações para reduzir a violência e a discriminação e garantir os direitos dos cerca de 1,6 milhão de indígenas que vivem no país.


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