o horror

ONU: caso Assange pode ser início de era de trevas para a imprensa

Caso Assange: “Se o jornalismo de investigação pode ser criminalizado em todo o mundo, a censura e a tirania imperam. Estão criando um sistema assassino”

carlos latuff
carlos latuff
Mais do que herói ou vilão, Assange virou símbolo da perseguição contra a liberdade de imprensa

São Paulo – O criador do WikiLeaks, Julian Assange, passa por um processo de tortura física e psicológica, fato que tem impacto direto nas democracias e na liberdade de imprensa em todo o mundo. O alerta vem do relator da Organização das Nações Unidas (ONU) Nils Melzer. “De repente, o que aconteceu com o outro (tortura e violações) pode facilmente atingir a nós e nossos filhos. E ninguém se importará.”

Melzer tem vasta experiência como relator especial da ONU sobre torturas, bem como delegado da Cruz Vermelha. Ele sentencia, jura que o futuro é mais sombrio do que muitos esperam. “Vi o quão rápido países pacíficos podem se transformar em infernos. As raízes sempre são falta de transparência e um poder político econômico desenfreado, combinado com ingenuidade, indiferença e maleabilidade da população”, disse.

A entrevista do relator foi concedida para o site Republik. As alegações são fortes e envolvem uma série de abusos e violações de direitos humanos deste homem, que ganhou a inimizade de muitos poderosos por divulgar a verdade. De acordo com Melzer, Assange é vítima de uma intensa conspiração que envolve fraude processual, juízes imparciais e pressões internacionais. Por expor crimes de guerra dos Estados Unidos, Assange é condenado no país a 175 anos de prisão.

“O número de infrações registradas na Suécia (país aonde Assange foi acusado de abusar de mulheres sem prova, sequer testemunho delas) nas primeiras semanas de investigação é simplesmente grotesco. O Estado designou um assessor legal para mulheres que disse que a interpretação criminal do que viveram dependia do Estado e não delas”, afirma Melzer.

Quando a Justiça sueca resolver desistir do caso por lacunas óbvias, os britânicos responderam prontamente, na diplomacia, que “não se atrevessem a tal”. Assange estava sob custódia da Justiça inglesa. “A Coroa queriam evitar que os suecos abandonassem o caso a todo custo (…) O que o WikiLeaks fez foi uma ameaça para a elite política dos Estados Unidos, Grã Bretanha, França e Rússia em igual medida”, disse.

Sistema assassino

Para além de Assange como herói ou vilão, a perseguição pela qual foi submetido é um xeque-mate na liberdade de imprensa, especialmente nas chamadas “democracias consolidadas”. “Em um nível prático, significa que você, jornalista, deve se defender agora”, afirma Mielzer.


“Se o jornalismo de investigação se classifica como espionagem e pode ser criminalizado em todo o mundo, a censura e a tirania imperam. Estão criando um sistema assassino diante de nossos olhos”, sentencia o relator.


Diante de tal cenário, Mielzer diz estar convencido dos perigos explicitados pelo caso Assange. “Vamos ver aonde estaremos em 20 anos com Assange condenado e sobre o que você poderá escrever como jornalista. Estamos em grave perigo de perder a liberdade de imprensa. Já está acontecendo (…) quando a imprensa descobre maus comportamentos dos representantes do Estado”, concluiu.


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