Encruzilhada

Davos: causadores da crise ambiental prometem ‘salvar o planeta’

Nesta terça, evento na Suíça terá a participação da ativista sueca Greta Thumberg e do presidente dos EUA, Donald Trump, com visões antagônicas para o futuro

Flickr/World Economic Forum
Flickr/World Economic Forum
Chegada de Trump ao Fórum Econômico Mundial, onde deve negar, mais uma vez, urgência do combate às mudanças climáticas

São Paulo – Líderes políticos e empresariais estão reunidos em Davos, na Suíça, até a próxima sexta-feira (24), para a 50ª edição do Fórum Econômico Mundial (FEM). Entre os temas do encontro está o debate sobre formas de combate ao aquecimento global e às catástrofes climáticas ambientais decorrentes, principalmente, da emissão de gases do efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis.

Segundo relatório produzido pelo centro de estudos que organiza o fórum, os eventos climáticos, a perda de diversidade dos ecossistemas, a incapacidade das empresas em mitigar os danos ao meio ambiente e incidentes como vazamentos de petróleo e contaminação radiativa estão entre os principais riscos globais que devem “afetar os negócios” na próxima década.

O encontro vai reunir mais de 50 chefes de estado e de governo, incluindo o presidente norte-americano Donald Trump, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte. Disputará as atenções com eles a jovem ambientalista sueca Greta Thunberg, que participa do encontro nesta terça-feira (21). Ela esteve em Davos no ano passado, para denunciar ao mundo que “nossa casa está pegando fogo”. Neste ano, vai defender o fim da “loucura” dos combustíveis fósseis.

Capitalismo das partes

Entre os debates  prioritários deste ano estão “como salvar o planeta”, “economias mais justas” e “futuros mais saudáveis”. No discurso de abertura, nesta segunda-feira (20), o economista alemão Klaus Schwab, idealizador do FEM, defendeu um modelo de “capitalismo das partes interessadas”, em oposição ao “capitalismo dos acionistas”, em voga nas últimas décadas. O suposto idealismo, na verdade, revela certo nível de pragmatismo.

“Primeiro veio o efeito Greta Thunberg: ela nos recordou que o sistema econômico atual constitui uma traição às gerações futura pelo dano ambiental que provoca. Em segundo lugar, os ‘millenials’ e a ‘geração Z’ já não querem trabalhar, investir ou comprar em empresas que não atuem com base em valores mais amplos. Por último, cada vez mais os executivos e investidores compreendem que o sucesso deles no longo prazo também depende do êxito de seus clientes, empregados e fornecedores”, afirmou Schwab.

“Não queremos atingir o momento crítico da irreversibilidade das mudanças climáticas. Não queremos que as próximas gerações herdem um mundo que está se tornando cada vez mais hostil e menos habitável – pense nos incêndios na Austrália””, disse o pioneiro do fórum, em entrevista na semana passada.

Schwab também escreveu carta – em coautoria com os presidentes do Bank of America e da multinacional holandesa Royal DSM – endereçada aos participantes do encontro, em que defendeu que as empresas se comprometam a zerar suas emissões líquidas de gases do efeito estufa até 2050.

Esse tipo de proposta encontra resistência entre os céticos das mudanças climáticas, como Donald Trump, que também deve falar aos participantes de Davos nesta terça-feira (21). Ele retirou os Estados Unidos, o maior emissor global de poluentes, do Acordo de Paris, que também prevê metas de redução da emissão de gases do efeito estufa.

Um eventual encontro entre ele e Greta Thunberg é esperado em Davos. A jovem ativista considera, porém, “perda de tempo” a uma eventual conversa entre os dois, já que o mandatário norte-americano tem ignorado as avaliações de cientistas e especialistas. Sobre as visões antagônicas representadas por Greta e Trump, Schwab afirmou que “ambas as vozes são necessárias”.

Brasil à venda

O presidente Jair Bolsonaro alegou “questões de segurança” para cancelar a sua participação no FEM. No ano passado, sua passagem por Davos foi marcada por cenas constrangedoras, quando falou por seis minutos à plateia de investidores internacionais, ou quando deixou-se “flagrar” almoçando em um “bandejão” de um supermercado local, em vez de promover encontros bilaterais com outros líderes mundiais.

Incumbido de representar o Brasil, o ministro da Economia, Paulo Guedes, deve alardear os supostos benefícios da sua agenda reformista, em especial a aprovação da “reforma” da Previdência, que restringiu o acesso às aposentadorias, com a instituição da idade mínima de 65 para homens e 62 para mulheres, reduzindo também os valores dos benefícios. Guedes deve propagandear sua agenda de privatizações de estatais e anunciar ainda a abertura à participação de estrangeiros em licitações e concorrências públicas no Brasil.

A aprovação da reforma da Previdência também foi um dos motivos que fez o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisar para 2,2% a estimativa de crescimento brasileiro em 2020, durante a abertura do FEM. Em outubro, a expectativa de crescimento para o país, segundo o FMI, era de 2%. O cenário econômico global, no entanto, é mais turbulento, com redução do crescimento previsto de 3,4% para 3,3%.

 

 

Leia também

Últimas notícias