Desmonte

Disputa ideológica de Bolsonaro prejudica o mercado e o funcionamento do Mercosul

Para analista internacional, Brasil está rompendo com construção do mercado comum na América do Sul para dar preferência aos Estados Unidos. "Isso acaba debilitando o sentido e a existência do próprio Mercosul"

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
Disputa tem como intuito prejudicar novo presidente da Argentina, contrário às posições de Bolsonaro, de acordo com consultor internacional

São Paulo – Para o analista e consultor internacional Amauri Chamorro, há uma disputa política e ideológica por parte do governo Bolsonaro que começa a afetar o mercado e o funcionamento do Mercosul. Em entrevista à Rádio Brasil Atual, nesta sexta-feira (6),  Chamorro afirma que a situação do bloco econômico é cada vez “mais complicada” pela postura do Brasil. Ontem, durante a Cúpula do Mercosul realizada em Bento Gonçalves (RS), Jair Bolsonaro passou a presidência rotativa da organização ao líder do Paraguai, Mario Abdo Benítez.

A avaliação de Chamorro leva em conta a medida publicada pelo Ministério da Agricultura, em novembro, quando o governo brasileiro confirmou que implementará uma cota de importação de 750 mil toneladas de trigo por ano sem tarifas, o que beneficiará principalmente os Estados Unidos. Segundo a pasta, essa decisão atende a um compromisso firmado em março pelo presidente Bolsonaro com a Casa Branca. A cota com tarifa zero, no entanto, contraria a própria regulamentação do Mercosul, que dá preferência aos produtores locais, no caso do trigo, a Argentina, parceira comercial do Brasil.

De acordo com o analista, essa é uma “atitude de disputa política e ideológica” de Bolsonaro contra o novo presidente Alberto Fernández, que assume o país na terça-feira (10), após a derrota nas urnas do atual mandatário, Mauricio Macri. Desde a época das eleições, o chefe do executivo brasileiro tem atacado o argentino de posições mais progressistas. E agora parece estar usando o Mercosul para isolar o presidente eleito justamente com a promessa de reerguer um país quebrado economicamente após as políticas neoliberais de Macri.

“O Brasil está decidindo romper toda a construção de um mercado comum na América do Sul para dar preferência aos Estados Unidos, sem se importar com todos os acordos internacionais, com tudo que já foi assinado pelo Brasil e pelo Mercosul, simplesmente por uma disputa política”, afirma Chamorro. “Dá para entender exatamente para onde vai esse governo e como isso acaba debilitando o sentido e a existência do próprio Mercosul.”

Na contramão de Bolsonaro, que faz concessões aos Estados Unidos, o presidente norte-americano, Donald Trump, disse na segunda-feira (2) que irá restaurar as tarifas de importação sobre o aço e o alumínio do Brasil e Argentina, o que forçará o mercado nacional a vender mais barato aos Estados Unidos. O analista internacional aponta ainda que, nesse momento em que Bolsonaro aposta contra o Mercosul por conta de suas posições políticas, pesa ainda o fato de a Europa ver com incertezas a assinatura do acordo entre a União Europeia e o bloco da América do Sul.

“O presidente Mauricio Macri apresentou a assinatura como uma grande vitória, mas, na verdade, é uma espécie de carta de intenção, já que o acordo tem de ser validado pelos parlamentos dos países da (U.E). E a situação é muito difícil, já que Bolsonaro tem uma péssima imagem fora do Brasil”, ressalta o consultor internacional.

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