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OEA também é culpada pelo golpe que já matou 24 e feriu centenas na Bolívia

O consultor em relações internacionais Kjeld Jakobsen avalia que a entidade tem tido um papel nefasto na América Latina e foi fiadora do golpe

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Secretário-geral da OEA, Luís Almagro, não se pronunciou sobre uma senadora de direita se declarar presidenta da Bolívia

São Paulo – Passados dez dias do golpe de Estado na Bolívia, que depôs e exilou o presidente Evo Morales, o país já registra 24 mortos e 715 pessoas feridas pela repressão do Exército e das forças policiais. Para consultor em relações internacionais Kjeld Jakobsen, a Organização dos Estados Americanos (OEA) também é responsável pela situação. “Sem dúvida nenhuma. Eles colocaram em questionamento o processo eleitoral desde o início. E mesmo com a sua avaliação sobre a contagem dos votos, não foi uma denúncia que houve fraude ou manipulação dos votos. Mas isso acabou sendo a base para a convocação de novas eleições pelo Morales”, explicou.

O gesto de Morales não foi suficiente para aplacar o revanchismo das classes altas e médias, setores da imprensa e das igrejas, aliados a grupos de extrema direita, ao Exército e forças policiais. Os militares forçaram a renúncia do presidente, seguida de violenta repressão contra movimentos sociais aliados ao Movimento ao Socialismo, partido de Morales.

Ainda faltavam dois meses para o fim do atual mandato de Morales. Três dias depois do golpe, a senadora de direita Jeanine Añez se autodeclarou presidenta do país, em uma ação inconstitucional que a OEA ignorou. “Não é nenhum desconhecimento o papel nefasto que esse secretário-geral da OEA, Luís Almagro, vem cumprindo em países governados por progressistas no nosso continente”, destacou Jakobsen.

O especialista em relações internacionais destaca que o caso boliviano não é diferente do que vem acontecendo em outros países da América Latina. Mesmo em países onde houve vitórias do campo progressista, como na Argentina, nas eleições municipais e estaduais na Colômbia, além do México, no ano passado, “se percebe uma resistência forte na direita e na extrema direita, que não titubeiam em apelar para a violência para preservar o seu poder”.

“No caso boliviano, houve uma polêmica sobre o resultado eleitoral. Mas o problema não é esse. O problema é que queriam destituir o presidente Evo Morales de qualquer maneira. Ele concordou com a avaliação da OEA de que seria necessária uma nova eleição. E destituiu todo o Tribunal Eleitoral. Mas isso não foi suficiente, porque a direita continuou exigindo a sua renúncia e pressionando com tal violência que ele, para evitar maior desgaste físico da população, decidiu renunciar, juntamente com seu vice, o presidente do Senado e o presidente da Câmara. E partiu para o exílio para evitar ser assassinado”, explicou Jakobsen.

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