Evo Morales aos golpistas: ‘Assumam a responsabilidade de pacificar o país’
Presidente, que teve a casa invadida e depredada, denuncia violência e declara temor de derramamento de sangue pelas forças opositoras
Publicado 11/11/2019 - 12h45
São Paulo – O presidente da Bolívia, Evo Morales, obrigado pelas Forças Armadas a renunciar ao mandato, mandou nesta segunda-feira (11) um recado aos militares e personagens da oposição que lideraram o golpe de Estado, pedindo para que “assumam a responsabilidade de pacificar o país”, demonstrando preocupação com um potencial derramamento de sangue no país, caso haja confronto com os movimentos populares daquele país, que já declararam disposição de resistir e restabelecer a normalidade democrática. Antes de renunciar ao cargo, neste domingo (10), Evo denunciou o excesso de violência comandado pela oposição, com sequestros e torturas de membros do governo, invasão de prédios estatais e incêndio a casas. Até a casa de Evo, em Cochabamba, foi invadida e depredada.
Assista o saque à casa de Evo Morales
BOLIVIA | Saquean casa de Evo Morales pic.twitter.com/Bd7Bci3HZR
— Yusnaby Pérez (@Yusnaby) November 11, 2019
“(Carlos) Mesa e (Luis Fernando) Camacho, discriminadores e conspiradores, serão incluídos na história como racistas e golpistas. Que assumam a responsabilidade de pacificar o país e garantir a estabilidade política e a coexistência pacífica de nosso povo. O mundo e os patriotas bolivianos repudiam o golpe”, pronunciou Evo, por meio das redes sociais.
O racismo denunciado por Evo fica evidente nos ataques dos golpistas sobre a bandeira Wiphala, símbolo dos povos indígenas da Bolívia, que foi retirada de uma assembleia, durante uma manifestação, e queimada por manifestantes, em outro ato no país.
Morales havia anunciado, ainda na manhã de ontem, que, a partir da declaração da suspeição, pela Organização dos Estados Americanos (OEA), do resultado das recentes eleições presidenciais – que deram a Evo, por margem apertada, o quarto mandato consecutivo no cargo – a convocação de novas eleições presidenciais no país, mas a oposição não aceitou disputar um novo pleito com a participação dele.
Durante a tarde, as Forças Armadas e o comandante-geral da polícia se uniram aos opositores e pressionaram pela renúncia de Evo. Segundo a BBC News, o chefe do exército na Bolívia exortou o presidente a renunciar em meio a protestos decorrentes de sua reeleição no mês passado.
O golpe na Bolívia é banhado de violência. Grupos organizados de opositores sequestraram e torturaram uma prefeita aliada de Evo e um radialista. Além disso, as casas da irmã do presidente, Esther Morales Ayma, e de dois governadores (Esteban Urquizu, de Chuquisaca, e Víctor Hugo Vásquez, de Oruro) foram incendiadas, durante a onda de protestos. “Os conspiradores de golpe que assaltaram minha casa e a de minha irmã, incendiaram casas, ameaçaram a morte de ministros e seus filhos e irritaram um prefeito, agora mentem e tentam nos culpar pelo caos e pela violência que causaram. Bolívia e o mundo testemunham o golpe”, criticou Morales.
Diversos líderes políticos pelo mundo já manifestaram apoio ao presidente boliviano, que publicou um agradecimento e disse que “nunca irá abandonar o povo da Bolívia”. “Muito grato à solidariedade do povo, irmãos da Bolívia e do mundo que se comunicam com recomendações, sugestões e expressões de reconhecimento que nos dão incentivo, força e energia. Eles me mudaram para me fazer chorar. Eles nunca me abandonaram; Eu nunca vou abandoná-los”, agradeceu.
O secretário de Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, disse que o país oferecerá exílio ao presidente boliviano e outras lideranças locais, após o golpe. “O México, de acordo com sua tradição de asilo e não intervenção, recebeu 20 personalidades do executivo e legislativo boliviano na residência oficial em La Paz, por isso decidimos também oferecer asilo a Evo Morales”, anunciou.