Depois do golpe

Evo Morales chega ao México para asilo: ‘Peço para que não haja mais sangue’

Presidente foi deposto pelo golpe cívico-militar na Bolívia e teve asilo concedido por razões humanitárias, segundo o governo mexicano

Telesur
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Após desembarcar, Evo fez um pronunciamento, chamou os golpistas de 'covardes' e ressaltou a violência orquestrada pelos grupos que ser organizaram para tomar o poder

São Paulo – O presidente deposto pelo golpe civil-militar na Bolívia, Evo Morales, desembarcou no começo da tarde desta terça-feira (12) na Cidade do México,  onde viverá como asilado político sob a proteção do Estado mexicano. Evo embarcou por volta das 23h de ontem (horário de Brasília) na aeronave cedida pelo governo do México. O voo partiu da cidade de Chimoré, perto de Cochabamba.

Após desembarcar, Evo fez pronunciamento, chamou os golpistas de “covardes” e ressaltou a violência orquestrada pelos grupos que se organizaram para tomar o poder. “Vocês sabem muito bem que pela vitória no primeiro turno das eleições deste ano, começou um golpe de Estado. A última etapa foi um golpe a que se somou a polícia nacional. Os resultados, nestas três semanas: queimaram tribunais eleitorais, sedes sindicais, casas de autoridades. Saquearam, queimaram a casa da minha irmã. Saquearam minha casa em Cochabamba.  São covardes, utilizaram de violência contra a família, fizeram sequestros, ameaças a todos os integrantes do movimento político do MAS.”

Evo também pediu aos militares e  grupos opositores bolivianos que encerrem o ciclo de violências, para que não “haja mais sangue”. Ele reafirmou que seu único crime foi ser indígena e implementar programas sociais para os mais pobres.

“No sábado (9), um membro da equipe de segurança do Exército me informou e me mostrou mensagens que pediam minha cabeça em troca de 50 mil dólares. Um dia antes, outra denúncia. Por isso, estamos muito agradecidos por nossas vidas. Seguimos na política. Segue a luta. Estamos seguros que os povos do mundo têm o direito de liberdade. Pensei que tínhamos acabado com a opressão, com a discriminação, com a humilhação. Mas surgem outros grupos que não respeitam a vida e, menos, a pátria”, declarou.

A viagem de Evo foi tranquila, mas o avião enfrentou problemas para chegar ao seu destino. O ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, explicou que as Forças Armadas bolivianas tentaram impedir o avião de sair do país. A aeronave dirigiu-se ao Paraguai para reabastecer, mas a comitiva recebeu ordem de que estava proibida de sobrevoar a Bolívia, o Peru e o Equador, sendo obrigada a usar o espaço aéreo do Brasil.

O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, revelou, ainda na noite da segunda-feira (11), que a saída de Evo Morales da Bolívia só foi possível por uma ação conjunta entre ele e os presidentes do México, López Obrador, e do Peru, Martín Vizcarra, que permitiu que o avião sobrevoasse o espaço aéreo peruano somente para buscar Morales.

Em um pronunciamento oficial, hoje, o México, representado por Marcelo Ebrard, anunciou que ofereceu asilo para o presidente e disse ter acolhido também outros 20 integrantes do governo boliviano na sede oficial do governo mexicano em La Paz – sem divulgar os nomes para evitar mais perseguições.

Ebrard disse que o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador não reconhecerá um governo de caráter militar na Bolívia. “Consideramos um golpe o que ocorreu. É um golpe porque o Exército pediu a renúncia do presidente e isso violenta a ordem constitucional do país”, afirmou o chanceler.

Evo Morales anunciou sua renúncia no último domingo (10). Ele havia anunciado pela manhã a convocação de novas eleições presidenciais no país, mas a oposição não aceitou disputar um novo pleito com a participação dele. As Forças Armadas e o comandante-geral da polícia se uniram aos opositores e forçaram a renúncia.

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