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Aumentam casos de violência contra mulheres pela polícia de Piñera, no Chile

Uma fotógrafa dos protestos foi encontrada morta em sua casa e outra jovem foi vista sendo detida e está desaparecida. Instituto de direitos humanos do país já recebeu 79 denúncias de abuso sexual cometidos por soldados

Carlos Vera/Colectivo2+
Carlos Vera/Colectivo2+
De acordo com Instituto Nacional de Direitos Humanos, há 79 denúncias de violência sexual contra a polícia chilena durante os protestos

São Paulo – Crescem denúncias de violência policial contra as mulheres em meio aos protestos intensos no Chile contra os impactos sociais das políticas neoliberais  e o governo de Sebastian Piñera, que ocorrem há mais de um mês no país. Na semana passada, a fotógrafa Albertina Martínez Burgos foi encontrada morta no apartamento onde morava, no centro de Santiago. Albertina tinha 38 anos, trabalhava como assistente de iluminação em um canal televisivo e era freelance como fotógrafa. Nas últimas semanas estava se dedicando a registrar casos de violência contra mulheres nas manifestações. A principal linha de investigação do Ministério Público aponta a hipótese de homicídio. No apartamento da fotógrafa foram encontradas várias marcas de sangue em diferentes locais e o corpo mostrava lesões.

Outra jovem, Carolina Muñoz Manguello, está desaparecida desde sexta-feira (22). Ela foi vista pela última vez sendo levada presa pelo chamado efetivos dos carabineros, a polícia militarizada chilena. Imagens mostram quatro policiais empurrando a força a jovem para dentro de um veículo militar usado para deter manifestantes. Até agora, a família e os amigos não tiveram informações de Carolina e denunciam a falta de respostas do governo de Piñera.

O caso ainda lembra o assassinato da artista de rua Daniela Carrasco, que havia sido vista pela última vez quando foi presa pela polícia do Estado de Exceção decretado por Piñera, logo no início dos protestos, em outubro e, cinco dias depois, apareceu morta, enforcada e pendurada em uma cerca perto da casa em que morava, com sinais de violência sexual em seu corpo.

Mestranda em Políticas Sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Valério Oporto, que é chilena e pesquisa mulheres migrantes trabalhando no Brasil, onde mora há quase dois anos, destaca que os três casos de violência contra a mulher não foram casos isolados. “Tem muito mais mulheres que estão sofrendo essa e mais violência por parte da polícia”, destaca Valéria. “A repressão é muito grande para todo mundo, mas a mulher tem uma violência sistemática dentro do sistema, ela é sempre mais violentada, tem mais risco de ser violentada e agora com essa agressividade que a polícia está atuando, a mulher segue sendo mais vulnerável ainda. Está exposta à tortura, igual a todo mundo, mas pelo fato de ser mulher, torna-se mais vulnerável”, disse a pesquisadora, em entrevista na manhã de hoje (26) à Rádio Brasil Atual.

De acordo com o Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile (INDH), de 17 de outubro até esta segunda-feira (25), já foram registradas 396 queixas de tortura e maus-tratos pela polícia de Piñera, além de 79 denúncias de violência sexual. Entre as vítimas há ainda crianças, adolescentes e pessoas LGBTs.

Para o professor do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Oswaldo Munteal, o Estado e seu aparato repressor tem buscado atuar de forma indiscriminada e focando em seguimentos mais vulneráveis da sociedade, como que revivendo a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

“O governo Piñera, o que nós percebemos lá é que ele não é o Pinochet, ‘mas é’. Não é porque não é um clone do Pinochet, mas é um liberal, então nós estamos vendo um fenômeno novo e mutante. Que aliás é como o fascismo é. Há uma coisa que o caracteriza, que é sua expressão mutante, nós não vamos ter um fascismo igual a dos anos 30 na Europa, ele sempre vai se transformar. Agora ele é retomado como uma espécie de força suplementar, ele vem bombado, com apoio do liberalismo. Estamos assistindo uma aliança nova entre fascismo e liberalismo. O Piñera é um liberal radical”, avalia o professor, aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria.

Ouça a entrevista na íntegra

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