Eleição uruguaia

Após eleição acirrada, novo presidente do Uruguai deve fazer governo moderado

Professor Wagner Romão, da Unicamp, avalia que governo de Lacalle Pou deve seguir com diálogo e parte das políticas da Frente Ampla, que governou o país nos últimos 15 anos

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Segundo os jornais locais, por mais de 10 minutos, barulho, lata e escuridão tomaram conta de vários edifícios e bairros de Montevidéu, contra ações de Lacalle Pou

São Paulo – Para o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Wagner Romão, o resultado das eleições presidenciais no Uruguai reflete uma sociedade politicamente dividida. Nesta quinta-feira (28), a Corte Eleitoral uruguaia confirmou a vitória do candidato do Partido Nacional, Luis Lacalle Pou, por uma margem de diferença de aproximadamente 1% dos votos sobre seu opositor, o governista Daniel Martínez, da Frente Ampla.

Um resultado apertado, como descreve Romão, o que deve tornar “inevitável” uma relação entre Lacalle Pou e a Frente Ampla, que governou o país nos últimos 15 anos. “Parece que a transição será amistosa”, avalia Romão, em entrevista aos jornalista Marilu Cabañas e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

Esse diálogo sugerido pelo docente também leva em conta que, apesar da reconfiguração presidencial, na Câmara dos Deputados a frente progressista continuará sendo uma importante força política, com 42% dos deputados da Casa. “Isso pode colocar algum grau de moderação na agenda do partido Nacional”, afirma Romão. Até o momento, Lacalle Pou tem sinalizado pela manutenção de parte das políticas e leis colocadas em prática pela Frente Ampla como a união homoafetiva, a legislação sobre aborto e a legalização da maconha, trabalhadas especialmente no mandato do ex-presidente José Pepe Mujica.

Com o novo mandatário, Romão observa que o foco estará na retomada do crescimento do econômico do país que, para ele, deve seguir um “espírito de moderação e uma relativa continuidade das políticas em curso”, além da pauta de segurança pública que motivou, em paralelo ao processo eleitoral, diversos debates diante do aumento na taxa de homicídios no país. A população uruguaia chegou a debater em consulta pública o projeto “Vivir sin miedo” que, assim como o chamado pacote anticrime que tramita no Brasil, previa medidas de recrudescimento penal e punitivistas, mas foi derrotada em plebiscito.

“Essa derrota acaba limitando, circunscrevendo as possibilidades de ação de Laccalle Pou sobre esse assunto”, aponta o professor. “Mas é muito provável que Manini e o Cabildo Abierto continuem exigindo o recrudescimento dessas políticas de caráter mais punitivo”, afirma, em referência ao presidenciável do partido da extrema-direita, Guido Manini Ríos, que chegou a receber no primeiro turno 10% dos votos por “surfar” na pauta sobre violência, segundo Romão.

Para o professor, Manini tentará impor sobre o novo governo da direita uma pauta extremista semelhante à que conduz o presidente Jair Bolsonaro. No entanto, diante de uma América Latina que se levanta contra o neoliberalismo, o mandato de Lacalle Pou pode ter uma atuação mais “moderada”. “No momento que a gente vê tanto autoritarismo vicejando, muita gente pedindo retorno do AI-5 no Brasil, um tipo de opinião absolutamente desprezível, acho que o Uruguai mostra que é possível a convivência entre contrários. E, pelo menos nos marcos da democracia liberal, compreende a alternância minimamente harmônica de poderes e partidos políticos”, pondera.

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