pelo mundo

Levantes populares no Equador e no Chile podem influenciar eleições da Bolívia

Para mostrar riscos neoliberais representados por Carlos Mesa, campanha de Evo Morales se apoiou nas mobilizações de países vizinhos, estratégia que deve continuar no segundo turno

Reprodução
Reprodução
Tanto no Equador como no Chile, população vai às ruas questionar modelo neoliberal e suas consequências sociais e econômicas. Evo Morales usa disso para mostrar colapso dessa política representada por Carlos Mesa

São Paulo – Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o professor em Relações Internacionais e Economia e integrante do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Giorgio Romano, falou a respeito das eleições na Bolívia que indicam um segundo turno entre o presidente Evo Morales e o ex-presidente Carlos Mesa. Com quase 84% dos votos apurados pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) boliviano, Evo Morales liderou os resultados preliminares pelo Movimento ao Socialismo (MAS), com 45,3%, enquanto Carlos Mesa obteve por volta de 38,2%.

Segundo Romano, a indicação de uma segunda volta confirma a expectativa de diversos especialistas. “Há um certo cansaço e a oposição aproveitou de muitos conflitos que surgiram em várias partes do país, apesar de a economia continuar crescendo muito acima da média da América Latina, superando 4%, mas existe um déficit público muito alto e aumentou a dívida interna”, ressalta o professor à jornalista Marilu Cabañas.

Esta é, no entanto, a primeira vez que o atual presidente da Bolívia irá para um segundo turno. Nas três vezes em que foi eleito, 2006, 2010 e 2014, Evo Morales sempre ganhou com folga, mas a disputa promete ser acirrada no segundo turno. “Há muito outros partidos, sobretudo o terceiro colocado, da região de Santa Cruz, e se a oposição se juntar isso pode complicar para Evo Morales”, afirma.

O docente avalia que a estratégia do atual presidente para rebater os ataques deve continuar a ser a de mostrar à população os riscos de um modelo neoliberal representados por Carlos Mesa, usando como exemplos os recentes acontecimentos nos países vizinhos, com fortes mobilizações populares questionando a economia liberal de seus mandatários. “Nesse sentido, as revoltas no Chile e no Equador tiveram também um peso na campanha para as eleições”, explica Giorgio.

Os levantes na América Latina 

Depois do estopim do aumento nos preços dos combustíveis no Equador, o Chile também está tendo mobilizações contrárias ao aumento do preço das tarifas do transporte público. No sábado (19), o presidente do país, Sebastián Piñera, chegou a declarar a revogação, mas manifestantes tomaram as ruas contra as políticas neoliberais que elevam os custos de vida.

O governo declarou estado de emergência e colocou militares nas ruas para repreender a população. Na manhã de hoje o governo reconhece 11 mortos e aproximadamente 1,5 mil pessoas detidas. De acordo com Giorgio Romano, a resposta de Piñera significa, de certa forma, uma “ruptura com o pacto democrático” que se estabeleceu depois da queda do ditador Augusto Pinochet (1973-1990). “O que se expressa é uma insatisfação difusa, mas a questão social, os problemas econômicos, a presença nas decisões da parte da população, a falta de expectativa, uma série de questões que estão presentes, mas que também estão presentes no Brasil”, observa o professor em RI.

Enquanto isso, no Reino Unido, o Brexit

Depois de ter frustrada a sua tentativa de aprovar o acordo do Brexit fechado com a União Europeia (UE), o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, deverá enviar uma carta a Bruxelas pedindo, contra a sua vontade, a prorrogação da votação do acordo de saída do país do bloco econômico, prevista para o dia 31 de outubro. O termo foi firmado pelo parlamento britânico no sábado (19) ao rejeitar o pedido de aprovação de Johnson.

Agora, segundo o docente em Relações Internacionais, cabe ao bloco europeu nos próximos dias se manifestar, o que marca de incertezas o futuro do país. “Se houver aprovação do acordo com a União Europeia, a gente pode imaginar que isso só será possível com um acordo com os partidos, o Boris sozinho não consegue maioria”, afirma.

Ouça a entrevista na íntegra