'Moreno, assassino'

Indígenas do Equador rompem com governo após repressão com mortes

Oito policiais detidos pelos indígenas foram liberados. Confederação fala em radicalização dos protestos até que medidas econômicas do FMI sejam derrubadas

Reprodução/Conaie
Reprodução/Conaie
Policial carrega caixão de indígena morto durante protesto contra o governo

São Paulo – Novas manifestações estão previstas para esta sexta-feira (11) em diversas regiões do Equador, apesar do feriado nacional que celebra a independência de Guaiaquil, para onde o presidente Lenín Moreno transferiu a sede do governo após a eclosão dos protestos iniciados na semana passada. Em Quito, pela manhã, os manifestantes tomaram novamente as ruas próximas à Assembleia Nacional, sede do Poder Legislativo. Nesta quinta-feira (10) indígenas anunciaram que não vão mais dialogar com o governo até que os ministros a quem responsabilizam pela repressão violenta sejam demitidos e o decreto que aumentou o preço dos combustíveis seja derrubado.

Cinco pessoas foram mortas, entre elas dois indígenas, e mais de 500 ficaram feridas durante os protestos contra as medidas econômicas neoliberais adotadas para garantir empréstimo de US$ 4,2 bilhões, em acordo firmado com o FMI. Além do reajuste nos combustíveis, esse acordo prevê também mudanças na legislação trabalhista, demissão de funcionários públicos e privatização de serviços estatais. Em meio às manifestações, Moreno decretou estado de exceção, no país, restringindo as liberdades individuais e o acesso à informação.

“Com o sangue dos nossos irmãos não vamos negociar. Não há nenhuma negociação com este governo nefasto, mentiroso e ladrão”, afirmou o presidente da Confederação das Nacionalidades Indígenas do país (Conaie), Jaime Vargas, que pediu uma “radicalização” contra o governo. O conflito se agravou já na noite de quarta-feira (9), quando a polícia jogou gás lacrimogêneo nas instalações de uma universidade onde os indígenas estavam acampados.

Eles formaram um cordão no centro da capital para levar os caixões dos dois mortos até a Casa de Cultura, onde foram levados. Policiais que haviam sido detidos pelos indígenas foram obrigados a carregar os caixões das vítimas, que foram recebidos aos gritos de “Moreno, assassino”. Depois, os oito agentes de segurança foram entregues a representantes de direitos humanos e da ONU.  Na guerra de informações que se desenrola em meio aos protestos, os veículos tradicionais de imprensa chegaram a afirmar que eles seriam julgados em uma espécie de tribunal indígena.

O líder da Conaie também convocou os militares a desobedecerem as ordens de Moreno e anunciou que os indígenas farão esforços para bloquear a produção de petróleo na região amazônica equatoriana. Segundo ele, os protestos não vão parar até que o FMI saia do país. Os nativos representam cerca de 25% dos 17,3 milhões da população do país. Dentre os mais pobres, 68% são indígenas. Já a Conaie representa 14 nacionalidades indígenas e cerca de 15 mil povos originários.