Fôlego

Pelo voto e com democracia, populações dizem não a onda neoliberal na América Latina

Guinada à direita pode estar perdendo força diante das consequências sociais e econômicas denunciadas pela Argentina, Chile e Equador. "Há uma crise em que os governos não estão conseguindo dar respostas", avalia especialista

CUT CHILE
CUT CHILE
No Chile, laboratório das políticas neoliberais, população se revela contra consequências econômicas e sociais decorrentes desse modelo. "Acordo com FMI e políticas que valorizam o mercado deterioram-se"

São Paulo – A onda neoliberal, favorável aos governos de direita, que se anunciava sobre a América Latina com a ascensão de políticos desse espectro pode, na verdade, perder força ainda antes de se instalar definitivamente na região, como se cogitava, destaca o professor de História e Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Luis Fernando Ayerbe, membro da Rede de Integração da América Latina e Caribe, à Rádio Brasil Atual.

Para o acadêmico, prova disso é a eleição da chapa Frente de Todos, de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, que derrotou, em primeiro turno, nas eleições presidenciais da Argentina neste domingo (27), o atual presidente, Mauricio Macri, que após colocar em curso um agenda neoliberal entrega uma Argentina mergulhada em uma crise econômica e social com pelo menos 35% da população em condições de extrema pobreza e 7% em extrema pobreza, segundo dados do Observatório de Dívida Social da Universidade Católica da Argentina (UCA).

O mesmo conjunto de medidas e ajustes fiscais em prol do mercado e do Fundo Monetário Internacional (FMI) que levou o Chile e o Equador a uma convulsão social, protagonizando protestos históricos nas últimas semanas contra essa política e pela renúncia de seus governos, que emergiram em meio aos desdobramento da crise financeira de 2008 que, na América Latina chegou com força em meados de 2015, colocando o campo da esquerda em xeque e facilitando o crescimento da direita, que agora começa a ruir, como avalia Ayerbe. “Esse ciclo curto significa que há uma crise em que os governos não estão conseguindo dar respostas”, afirma o professor. “Acordo com FMI e políticas que valorizam o mercado sofrem mais rapidamente, deterioram-se”.

A Bolívia foi um dos poucos casos que, mesmo diante da campanha contra os governos mais à esquerda, manteve-se com a mesma linha e na semana passada reelegeu ao cargo o presidente Evo Morales. “Mas digamos que governar nesses tempos na América Latina tem um grande custo”, ressalta Ayerbe, citando como exemplo o Uruguai que, assim como a Bolívia, também permaneceu alinhada, mas após 15 anos do governo de esquerda da Frente Ampla, o partido terá de ir ao segundo turno com seu candidato, Daniel Martínez, que disputará o cargo com o presidenciável da centro-direita, Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional.

Para o professor, diante das atuais dificuldades econômicas que vivencia a América Latina, “nenhum governo, por melhor que ele seja”, passará tanto tempo “sem sofrer desgaste”. “O governo da Frente Ampla teve muitas conquistas, a melhoria econômica, uma política no âmbito de costumes, de tolerância, governa desde 2004, e neste momento, uma crítica que se coloca é que ele não construiu aliança, porque ficou sozinho para o segundo turno frente aos três partidos mais à direita que somados têm mais votos para ganhar. Claro, pode ser que haja uma postura que traga indecisos para o campo da Frente Ampla. Então teremos que observar se a Frente Ampla consegue recompor apoios fora de seu partido para esse segundo turno em novembro”, finaliza.

Ouça a entrevista completa

 

 

Leia também

Últimas notícias