Dissolvendo

Chile: após dia histórico de protestos, Piñera pede a ministros que entreguem cargos

Em mais uma vitória da luta popular, presidente pede a renúncia de todo o seu gabinete e propõe fim do estado de emergência

Suzana Hidalgo (esq) e Twitter-Governo do Chile - Reprodução
Suzana Hidalgo (esq) e Twitter-Governo do Chile - Reprodução
Pressionado pela intensidade das manifestações populares, Sebastiám Piñera anuncia revogação de seu gabinete e abre caminho que pode levar a nova constituinte no Chile

Opera Mundi – O presidente do Chile, Sebastián Piñera, pediu neste sábado (26) a seus ministros que colocassem os cargos à disposição, abrindo caminho para que haja uma mudança no gabinete. A medida vem um dia depois de protestos históricos no país, que, só em Santiago, reuniram 1,2 milhão de pessoas – as fontes oficiais afirmam que foram 820 mil – , apesar do estado de emergência e o toque de recolher.

“Pedi que todos os ministros coloquem seus cargos à disposição para poder estruturar um novo gabinete para enfrentar estas novas demandas cidadãs“, afirmou.

Piñera também prometeu derrubar o estado de emergência, que vigora no país desde o começo da semana. “Para avançar com paz e com segurança, é fundamental recuperar o caminho da normalidade. Por isso, quero anunciar que, se as circunstâncias o permitirem, minha intenção é levantar todos os estados de emergência a partir das 24h do próximo domingo.”

Nesta sexta-feira (25), Antofagasta, Copiapó, Valparaíso, Rancagua, Concepción, Puerto Montt, Osorno e Santiago tiveram toque de recolher entre 23h e 4h.

O presidente disse que “escutou a mensagem” dos protestos – os quais elogiou na noite de ontem. “Todos escutamos a mensagem, todos mudamos. Agora, temos que unir forças para dar respostas verdadeiras, urgentes e responsáveis a essas demandas sociais de todos os chilenos”, afirmou.

Dezenove mortes já foram registradas desde o início dos protestos, com 2.840 pessoas detidas e 295 feridas por armas de fogo. Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e atualmente alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, disse que enviará, na próxima segunda-feira (28/10), uma missão de verificação para acompanhar os conflitos no país e examinar denúncias de violações dos direitos humanos.

Há, na tarde deste sábado, novos protestos pelo país, especialmente em Santiago. Vias foram fechadas para a passagem dos manifestantes.

Na sexta (25), milhões de manifestantes foram às ruas em diversas cidades do Chile para protestar contra o governo neoliberal de Piñera no 8º dia consecutivo de protestos desde o aumento nas tarifas do metrô de Santiago no último domingo (20).

Na capital, a marcha reuniu 1,2 milhão de pessoas, e manifestantes carregavam faixas e bandeiras com os dizeres “Chile despertou” e “Não estamos em guerra”, em referência à fala de Piñera na última segunda-feira (21/10). Apresentações musicais também aconteceram em vários pontos da cidade onde entoaram canções de artistas históricos chilenos como Victor Jara (assassinado pela ditadura de Pinochet), Inti Illimani e Quilapayún.

Ainda foi possível ver manifestantes gritando palavras de ordem como “renuncia, Piñera”, “saúde digna”, “Assembleia Constituinte” e “Não + AFP”, em referência ao sistema de aposentadorias chileno.

Emissoras de TV e movimentos populares chegaram a comparar o tamanho das manifestações desta sexta-feira com a campanha pelo “No”, durante o plebiscito que colocou fim à ditadura de Augusto Pinochet, em 1988.

Ainda na sexta, os carabineros (polícia militar chilena) reprimiram com bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água uma manifestação em torno do Congresso Nacional chileno, que fica na cidade de Valparaíso. Segundo o jornal El Mercúrio, um grupo de cerca de 25 manifestantes conseguiu atravessar as grades do edifício, mas foi detido ainda nos jardins do Parlamento e não conseguiu entrar no prédio.

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