Alto lá

Câmara dos EUA abre processo de impeachment contra Donald Trump

Presidente é acusado de ter violado lei ao utilizar sua relação com o governo da Ucrânia para investigar filho do opositor Joe Biden

Casa Branca e Gage Skidmore/Wikimedia
Casa Branca e Gage Skidmore/Wikimedia
“O presidente deve ser responsabilizado. Ninguém está acima da lei”, afirmou Nancy Pelosi

São Paulo – Está aberto o processo formal de impeachment contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O anúncio foi feito na tarde desta terça-feira (24) pela presidenta da Câmara de Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados, no Brasil), Nancy Pelosi. Trump é acusado de ter solicitado ajuda ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para que colaborasse com seu advogado pessoal, Rudolph Giuliani, em uma investigação sobre Hunter Biden. O filho do ex-vice-presidente Joe Biden integrou o conselho de uma empresa de gás ucraniana.

“O presidente deve ser responsabilizado. Ninguém está acima da lei”, afirmou Nancy Pelosi a uma TV americana. Trump teria violado a legislação norte-americana ao tentar recrutar um poder estrangeiro para interferir a seu favor na eleição de 2020. Joe Biden é o principal pré-candidato democrata às eleições presidenciais e considerado uma ameaça à reeleição pretendida por Donald Trump.

“Se o presidente está essencialmente retendo ajuda militar ao mesmo tempo em que está tentando coagir um líder estrangeiro a fazer algo ilícito, a fornecer sujeira sobre seu oponente durante uma campanha presidencial, então este pode ser o único remédio que é equivalente ao mal que essa conduta representa”, afirmou o presidente democrata do Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados, Adam Schiff, à CNN.

O Partido Democrata tem maioria na Câmara, mas o pedido de um processo de impeachment deve ser aprovado também pelo Senado, de maioria republicana, ou seja, mais favorável a Trump, explica o jornalista e analista político Amauri Chamorro, para quem a situação é mais uma trama eleitoral que uma tentativa de fazer justiça nos Estados Unidos. “Esse processo tem dois fatores: afetar a imagem de Trump junto ao eleitorado dos Estados Unidos e fazer Biden, que não vai bem nas pesquisas de opinião, se posicionar com uma vítima do poder, da falta de escrúpulos de Trump”, afirma.

“O que é certeza é que Trump vai sangrar até o final de eleição. O objetivo democrata nesse momento é afetar a imagem forte da boa gestão em matéria econômica e da capacidade de liderar o país no sentido de polícia do mundo, de posicionamento duro contra estrangeiros e as supostas ameaças aos EUA. Vamos ver, vai ser interessante a luta.”

Chamorro lembra que a eleição nos Estados Unidos não é através do voto direto, não ganha quem tem mais votos e sim quem tem mais votos indiretos, por meio dos colégios eleitorais. “Um sistema muito bizarro, que inclusive pode ser dito como antidemocrático”, classifica.

Na eleição passada, a candidata democrata Hilary Clinton obteve mais votos que Trump. Mas em estados-chave, que têm super delegados, com mais peso na votação indireta para presidente da República, ele ganhou. “Isso está acontecendo agora. O Joe Biden ganharia a eleição no voto direto, mas entre os super delegados, ele não ganharia a eleição contra Trump”, avalia Chamorro. “Esse movimento pode iniciar uma mobilização nos Estados Unidos para as pessoas irem votar. Se existir consciência por parte do partido Democrata, de que há possibilidade por meio do voto direto e dos super delegados de conseguir derrotar Trump, automaticamente a população votante sairia no dia da eleição, nos locais específicos, o que poderia permitir a vitória de Biden.”

A denúncia

Um agente de segurança do governo norte-americano teria revelado o conteúdo da conversa, ocorrida em julho, na qual Trump disse oito vezes a Zelensky que ele deveria colaborar com a investigação contra o filho de Joe Biden. O advogado Rudolph Giuliani admitiu a conversa em entrevista à CNN e comentou, no Twitter, que Trump agiu corretamente no telefonema.

A Ucrânia aguardava a aprovação de um pacote de ajuda militar no valor de US$ 250 milhões vindo dos EUA. Ratificada no mês seguinte pelo Congresso, a verba foi suspensa pela Casa Branca.

De acordo com reportagem da CNN, Hunter Biden trabalhou na empresa ucraniana Burisma Holdings, que esteve sob investigação. Apesar disso, o filho do pré-candidato democrata não foi apontado como participante do esquema de corrupção que levou à queda de um procurador da Ucrânia em 2016.

O que Trump diz

Em sua conta no Twitter, o presidente norte-americano chamou a abertura do processo de nova “caça às bruxas”. Trump também usou esse termo à época da investigação sobre a Rússia.

Trump, que se recusava a comentar o conteúdo da conversa com o presidente ucraniano, agora admite que falaram sobre Biden. “A conversa que tive foi principalmente congratulatória, principalmente sobre corrupção, toda a corrupção acontecendo e principalmente sobre o fato de que não queremos nosso povo, como o vice-presidente Biden e seu filho, criando a corrupção que já existe na Ucrânia”, disse.

Após dias de pressão para que divulgasse o diálogo, o presidente dos EUA disse que o teor do telefonema poderá ser divulgado nesta quarta-feira. “Vocês vão ver que foi uma ligação muito amigável e completamente apropriada. Nenhuma pressão e, diferentemente de Joe Biden e seu filho, sem quiproquó!”

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