Apelação

‘É o Pai-Nosso que ateus rezam antes de morrer’, diz Fernandez sobre pacote de Macri

"Ele faz isso por necessidade eleitoral e não por convicção", disse candidato vitorioso nas primárias argentinas. Presidente aumentou salários e bolsas, além de congelar preços de combustíveis

Marcelo Camargo/ABr - FrenteDeTodos/media
Marcelo Camargo/ABr - FrenteDeTodos/media
Após derrota de dimensões inesperadas para a chapa de Fernández e Cristina Kirchner, Mauricio Macri baixa pacote de medidas econômicas para tentar reverter confirmação das expectativas eleitorais na Argentina

São Paulo – Após o agravamento da crise econômica a partir da derrota nas eleições primárias realizadas no último domingo (11), o presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou nesta quarta-feira (14) uma série de medidas econômicas que prevê, entre outros pontos, aumento de salários e congelamento de preços de combustíveis. Para o candidato à Presidência Alberto Fernández, que venceu Macri domingo, o pacote vem de forma “tardia e desesperada”, e sem convicção.

“É como o Pai-Nosso que os ateus rezam antes de morrer. Então, não tem nenhuma convicção. Só rezam para o caso de haver vida do outro lado”, disse o candidato à rádio argentina El Destape. As eleições gerais serão em 27 de outubro.

Macri anunciou aumento de 2 mil pesos (R$ 136,90 na cotação de hoje) no salário mínimo dos trabalhadores do setor privado e de 5 mil (R$ 342,30) nos servidores públicos. O mínimo na Argentina vale cerca de US$ 225, equivalente a R$ 902. Além disso, ele anunciou um congelamento no preço dos combustíveis por 90 dias. Mesmo após o anúncio, o dólar no país chegou a 61 pesos, registrando aumento de mais de 5% com relação ao fechamento da terça-feira (13).

Fernández afirmou que as medidas que agora Macri diz tomar contrariam o que seu próprio governo vem fazendo na economia do país desde a posse. Para ele, os objetivos do neoliberal são apenas eleitorais. “Ele [Macri] tenta mover o consumo e isso não é ruim, mas desse jeito é muito perigoso. Ele faz isso por necessidade eleitoral e não por convicção”, afirmou. “O presidente está em um momento difícil e eu o entendo, mas nota-se que ele não está convencido do que está fazendo e agora deve priorizar seu papel como presidente e não como candidato.”

Em entrevista coletiva na segunda-feira seguinte à sua derrota nas primárias, o presidente culpou a chapa vitoriosa pelo agravamento da crise argentina e disse que as reações do mercado eram por falta de confiança do mundo com os kirchneristas. Na terça, intelectuais e personalidades argentinas exigiram que Macri assumisse a responsabilidade pela crise e afirmaram que, quando o mandatário culpou o resultado das eleições, ele atacou a democracia.

Macri pediu desculpas pela declaração, ao anunciar hoje seu pacote econômico – que inclui isenção do imposto de renda para cerca de 2 milhões de pessoas o que, de acordo com o jornal Página 12, poderá proporcionar uma economia de 2 mil pesos por mês para cada contribuinte.

Em mensagem gravada na Casa Rosada, sede do governo, ele disse que responsabilizou a vitória da chapa de Alberto Fernández-Cristina Kirchner pelo acirramento da crise porque estaria “triste” e “sem dormir”. “Quero pedir desculpas pelo que disse na coletiva de segunda-feira. Fiz aquilo porque estava muito afetado pelo resultado de domingo. Além disso, estava sem dormir e triste pelas consequências na economia”, afirmou.

Pacotaço

Macri anunciou ainda que implementará “um plano que permitirá às pequenas e médias empresas pagar em 10 anos as dívidas impositivas”. Além disso, o chamado auxílio-estudantil terá aumento de 40%, enquanto que a Asignación Universal por Hijo (criado pelos kirchneristas e similar ao Bolsa Família brasileiro) terá pagamentos mensais extras.

Durante o anúncio, o presidente fez apelos aos eleitores para que sejam “responsáveis” e afirmou que “muito está em jogo”. Macri disse ainda que escutou “a mensagem” recebida nas eleições. “Sei que custa chegar ao fim do mês, as privações. Acharam que ia ser mais fácil. E eu também achei.”


Com reportagens dos portais Opera Mundi e Brasil de Fato

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