Crise política

Aliados de Bolsonaro, presidentes do Paraguai e da Argentina enfrentam revolta da população

No Paraguai, acordo sobre energia de Itaipu quase levou ao impeachment de Mario Abdo, enquanto na Argentina Macri está perto de perder eleição

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Mario Abdo caiu em descrédito após revelação de acordo sobre Itaipu, e Maurício Macri levou a Argentina a ter 32% da população abaixo da linha da pobreza

São Paulo — Paraguai e Argentina, países vizinhos do Brasil e importantes parceiros comerciais, passam por momentos conturbados. Enquanto no Paraguai o presidente Mario Abdo Benítez enfrenta a revolta da opinião pública após a revelação de um acordo com o Brasil que seria prejudicial ao país, na Argentina, o presidente Maurício Macri encontra-se na iminência de perder as eleições presidenciais de outubro, depois de comandar um governo que levou a inflação anual a ser superior a 50% e colocou 32% da população abaixo da linha da pobreza.

No Paraguai, o acordo firmado em 24 de maio com o Brasil e cancelado agora em agosto faria o país pagar US$ 50 milhões adicionais por ano, até 2023, pela energia produzida em Itaipu. A revelação quase levou à abertura de processo de impeachment de Mario Abdo, que agora, parece, conseguirá arquivar o pedido após acordo com os deputados do partido Colorado. A situação, porém, deve continuar complicada para o mandatário paraguaio.

“A imprensa está denunciado muito o que aconteceu com o tema de Itaipu, e também a insatisfação popular com relação à gestão do presidente. A economia não vai bem e há uma sensação ruim na população sobre o que aconteceu com a negociação com o Brasil. Uma negociação secreta, ilegal”, explica o jornalista e analista político, Amauri Chamorro, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.

Para ele, o arquivamento do pedido de impeachment não deve encerrar as dificuldades de Abdo, pois a resistência popular será grande e o tema não será esquecido facilmente. Chamorro destaca que o atual presidente representa a continuidade do grupo político que derrubou o ex-presidente Fernando Lugo.

O analista político também enfatiza o adiantado processo de construção de uma base dos Estados Unidos no Paraguai, fato que, acredita, tem relação com os atuais acontecimentos no país.

“Os Estados Unidos há muito tempo tentam construir uma base no Paraguai, perto da tríplice fronteira, e esse processo avançou”, afirma Amauri Chamorro, lembrando que houve, inclusive, a aprovação de uma lei no Paraguai que concede imunidade aos militares americanos, independente de quais crimes possam vir a cometer.

Queda livre

Na Argentina, após perder as eleições primárias para o candidato à Presidência Alberto Fernández, o atual presidente Maurício Macri tenta reverter a situação. Para isso, anunciou o congelamento do preço da gasolina por 90 dias, aumentou em 25% o valor do salário mínimo, reduziu imposto de renda para pessoas de baixa renda, e aumentou em 40% a bolsa estudantil, entre outras medidas.

Para Amauri Chamorro, isso tudo veio muito tarde para mudar a situação eleitoral de Macri, além de serem vistas como hipócritas por setores da sociedade. “A Argentina vem sofrendo uma depressão econômica tremenda. Se afetou principalmente a população mais pobre do país. Faltando três meses para a eleição, é quase impossível reverter a situação.”

O analista lembra que o país recebeu, no governo de Macri, US$ 57 bilhões de empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI), o maior já concedido na história do FMI. “Até hoje ninguém nunca viu o benefício desse empréstimo. Então a população sabe que grande parte desse dinheiro foi para os sócios políticos do Macri. A Argentina praticamente quebrou com esse empréstimo, não há condições de pagar. A legitimidade do governo dele acabou.”

Chamorro acredita que a situação da Argentina irá piorar, razão pela qual o candidato Alberto Fernández já anuncia que o empréstimo terá de ser renegociado.

Acompanhe a entrevista na íntegra

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