relações internacionais

Diálogo não está fluindo à altura das nossas aspirações, diz embaixador palestino

'Estamos zelando, todos os países árabes, Palestina à frente, para cuidar de melhorar as relações com o Brasil e com o novo governo', afirma Ibrahim Alzeben, decano do Conselho de Embaixadores árabes

Valter Campanato/Agência Brasil

“Brasil sempre manteve uma posição apegada ao direito internacional e essa mudança foi de repente”

São Paulo – Os países árabes fizeram formalmente, por meio de seus embaixadores no Brasil, um pedido de reunião com o presidente Jair Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo para “estabelecer contato e abrir um diálogo frutífero para ambas as partes”, segundo o embaixador palestino Ibrahim Alzeben. Ele é decano do Conselho de Embaixadores árabes no país e representa 17 países, inclusive a missão da Liga Árabe. Nessa qualidade, fez a solicitação, com o objetivo de “reafirmar nossa posição de manter e desenvolver as excelentes relações” tradicionalmente mantidas com o Brasil.

O novo governo brasileiro vem adotando posições que contrariam a reconhecida tradição do país de se manter a favor da paz entre palestinos e israelenses. Na semana passada, o Brasil votou nas Nações Unidas contra, entre outras, uma resolução que condenava Israel por supostas violações e crimes cometidos em Gaza em 2018.

Neste domingo (31), Bolsonaro chegou a Israel para uma visita oficial de três dias e, ao lado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, anunciou a criação de um escritório de representação comercial em Jerusalém. O aparente recuo da intenção de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, porém, não satisfez os árabes.

Ainda no domingo, a Autoridade Palestina condenou a iniciativa do Brasil em relação ao escritório comercial, e anunciou que vai chamar de volta o embaixador para consultas e “tomar as decisões apropriadas para enfrentar tal situação”. Bolsonaro continua dando declarações que passam muito longe da diplomacia. “É direito deles reclamar”, disse o brasileiro em Israel nesta segunda-feira (1°).

À RBA, o embaixador Ibrahim Alzeben afirma que “não deixa de ser surpresa” as posições adotadas pelo governo brasileiro em relação aos árabes e palestinos. “Porque, ao longo dos últimos anos, o Brasil sempre manteve uma posição bastante apegada ao Direito Internacional e essa mudança foi de repente”.

Qual o objetivo de uma reunião com o presidente brasileiro?

A solicitação (para a reunião) foi feita antes. Faz mais de 15, 20 dias, que nós solicitamos esse encontro, com o presidente e com o chanceler. Vamos reiterar este pedido. Acreditamos que é importante estabelecer esse contato, para estabelecer um diálogo pelo bem de Brasil e dos países árabes.

Está faltando diálogo por parte do Brasil?

Acho que este diálogo ainda não se iniciou como deve. Não está fluindo à altura das nossas aspirações e dos interesses mútuos.

E à altura das tradicionais boas relações do Brasil com a Palestina e com os árabes…

Concordo.

Não houve nenhuma resposta do governo brasileiro por enquanto?

O sr. presidente está em Israel ainda. Não houve resposta, possivelmente por razões de agenda.

O Brasil adotou posição nas Nações Unidas contrária às tradições brasileiras em relação à Palestina, na semana passada…

Lamentavelmente, sim. E temos que conversar com as autoridades pertinentes para tratar de corrigir, porque o Brasil não estaria votando a favor da Palestina ou contra Israel, neste caso. A votação se faz de acordo com o direito internacional e com as regras internacionais.

Pela paz?

Pela paz, e eu não diria a favor da Palestina ou contra Israel. Os parâmetros não são esses. O Brasil não votava a favor das resoluções porque é amigo da Palestina ou adversário de Israel. O Brasil tinha um parâmetro de respeito e apego ao Direito Internacional. É isso que a gente precisa preservar – e seguir dialogando e conversando com o novo governo brasileiro.

O sr. está surpreso com a postura do novo governo brasileiro?

Não deixa de ser surpresa. Porque, ao longo dos últimos anos, o Brasil sempre manteve uma posição bastante apegada ao direito internacional e essa mudança foi de repente. Obviamente não deixa de ser surpresa.

Espera alguma resposta positiva daqui para a frente?

Para isso estamos aqui, para tratar de estabelecer contato e abrir um diálogo frutífero para ambas as partes. Estamos zelando, todos os países árabes, Palestina à frente, para cuidar de melhorar as relações com o Brasil e com o novo governo.

 

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