conjuntura instável

Chanceler da Venezuela rechaça tentativa de ingerência escancarada dos EUA

“Estados Unidos não estão por trás das tentativas de golpe. Estão à frente”, diz chanceler, depois que governo Trump colocou US$ 20 milhões à disposição do líder de oposição

asamblea/ve

Juan Guaidó, líder da oposição que se auto-declarou presidente da Venezuela

São Paulo – O chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, se manifestou novamente hoje (28) sobre os movimentos contrários ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela, acusando os Estados Unidos, e parte aliada da comunidade internacional, de estarem marchando por uma investida golpista. Isso seria evidenciado pelo reconhecimento de Juan Guaidó, que se autodeclarou presidente do país e é líder do Parlamento local, de maioria da oposição, como presidente interino da Venezuela. “Estados Unidos não estão por trás das tentativas de golpe. Estão à frente”, disse Arreaza.

A oposição ao governo venezuelano do presidente eleito de Maduro convocou manifestações para quarta-feira (30) e sábado (2). A intenção é repetir os protestos massivos contra Maduro que se realizaram na última semana (dias 21 e 22). “Anunciamos nossas manifestações e ações pacíficas. A união nas ruas é a chave para seguir avançando na rota que traçamos”, disse Guaidó.

Após apoio à decisão dos Estados Unidos de reconhecer Guaidó, outros países seguiram pelo mesmo caminho, como Brasil, Colômbia, Argentina, Canadá e Peru. Do outro lado, Rússia, Turquia, México e Bolívia reconhecem a legitimidade de Maduro. A China também pediu para que os Estados Unidos não interviessem na política interna venezuelana. Agora, o campo de disputa é a União Europeia. No fim de semana, França, Espanha e Alemanha deram um “ultimato” de oito dias para a convocação de novas eleições no país. No pleito do ano passado, a oposição boicotou o processo.

Em um recado direto ao presidente francês, Emanuel Macron, Arreaza disse: “Por que não se dedica aos protestos permanentes dos ‘coletes amarelos’? Dediquem-se aos seus assuntos. De onde vocês tiram a ideia que têm legitimidade para dar um ultimato a um povo soberano? Dar prazos ou ultimatos? Como podem imaginar tal ação intervencionista, diria até infantil?”.

Direito internacional

O governo norte-americano anunciou, no fim de semana, o envio de US$ 20 milhões para “ajuda humanitária” na Venezuela. Esse montante seria administrado pelos opositores de Maduro, que rebateu como um “financiamento” de uma tentativa de golpe. “Que barato saiu o golpe na Venezuela”, disse o presidente, “20 milhões de dólares. Esse é o valor que Mike Pompeo (chefe da diplomacia norte-americana) disse que vai dar à oposição. 20 milhões é o que gastamos só na manhã de hoje comprando medicamentos para o país”, completou.

Para Arreaza, a diplomacia norte-americana está “esquizofrênica” com a Venezuela. “Ontem, escutamos ameaças do senhor conselheiro de segurança dos Estados Unidos John Bolton. Queremos acreditar na realidade e por isso fazemos um pedido. Queremos acreditar nos mecanismos da prática diplomática”, disse.

Ele anunciou um acordo com Washington para manter “um mínimo de relações diplomáticas”, e disse que a Venezuela “respeitará as normas do direito internacional”. “Existe uma realidade real e outra virtual, no Twitter. Queremos acreditar, como indica o direito internacional público, que prevalece a real. Falta os Estados Unidos confirmarem qual será seu caminho. Qualquer decisão fora da diplomacia está desapegada do direito internacional, é inconstitucional e carece de valor real.”

“Existe um lobby (…) pode ser que o governo norte-americano, com tal pressão, esteja jogando pelo tabuleiro virtual. Nós queremos e vamos nos manter na realidade. Maduro tem palavra e respeita as convenções diplomáticas da ONU. Seguiremos procurando diálogo. Se não respeitarem e impuserem o jogo virtual sobre o real, terão que ir os diplomatas, terão que se retirar da Venezuela e a ruptura será total”, completou.

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