Inédito

Ex-gerentes da Ford são condenados por ajudar ditadura argentina

Processo investigou sequestro e tortura de 24 trabalhadores. Empresa 'foi cúmplice', afirma advogado

Reprodução/Twitter

Empresa afirma ter colaborado com investigações

São Paulo – Enquanto no Brasil ainda se tenta avançar na punição a empresas, públicas ou privadas, que colaboraram com a ditadura iniciada em 1964, na Argentina dois ex-funcionários da Ford foram condenados pelo Tribunal Oral Federal nº 1 de San Martin por serem responsabilizados pelo sequestro e tortura na fábrica de General Pacheco, município da Grande Buenos Aires. No julgamento, foi demonstrado que eles forneceram aos militares listas de empregados, além de garantir um espaço para interrogatório dentro da própria unidade.

Os condenados são o ex-gerente de manufatura Pedro Müller, de 86 anos, e o ex-gerente de segurança Héctor Sibila, 90. A sentença foi de 10 e 12 anos, respectivamente. No mesmo processo, o ex-militar Santiago Riveros foi condenado a 15 anos. A acusação afirma que a montadora “agiu de maneira coordenada” com a ditadura argentina (1976-1983). 

Os envolvidos eram acusados de fornecer endereços, imagens e dados pessoais de trabalhadores. Um centro de detenção teria funcionado na própria fábrica, para interrogatório, criando um “clima de terror” no local de trabalho. A Ford da Argentina disse que não fez parte do processo judicial e que colaborou com as autoridades.

O processo analisava as responsabilidades dos três no sequestro e tortura de 24 trabalhadores, dos quais 12 já morreram. “Ficou claro que a empresa foi cúmplice da ditadura”, afirmou Tomás Ojea Quintana, advogado dos trabalhadores. Os crimes foram considerados de lesa-humanidade.

No Brasil, trabalhadores tentam responsabilizar empresas que participaram da colaboração com a ditadura. A Comissão Nacional da Verdade, entre outras, e o projeto IIEP (Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas) apontaram para diversas evidências nesse sentido.

As montadoras estão incluídas na lista. No ano passado, a Volkswagen organizou um evento em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, para afirmar que pretendia se “reconciliar” com o passado. Um historiador contratado pela própria empresa atestou a colaboração da Volks com a ditadura. Em 1972, o funcionário Lúcio Antônio Bellentani foi preso dentro da própria fábrica e torturado. O caso virou documentário exibido na Alemanha.

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