Argentina

Quarenta anos das Abuelas de Mayo e seus 128 netos

Entidades conseguem identificar, 42 anos depois, filho de militante política desaparecida durante a ditadura

Espacio Memoria

A primeira manifestação do grupo, em 5 de agosto de 1978: avós apelam ‘às consciências e aos corações’

São Paulo – Marcos tinha só cinco meses de vida quando foi separado de sua mãe, a militante do PRT Rosario del Carmen Ramos, desaparecida em 1976 em Tucumán, na Argentina. Na última sexta-feira (3), conheceu seus irmãos Ismael e Camilo, filhos de Rosario e Ismael Suleiman. A mãe teria 70 anos agora. Marcos, 42 anos completados em junho, é o 128º neto identificado pelo grupo Abuelas de Plaza de Mayo, que estima em 500 o número de bebês sequestrados durante a ditadura (1976-1983).

“Fala-se da restituição de uma pessoa. Para mim, é a restituição de 42 anos de amor não vivido”, disse Camilo na apresentação.

Em 5 de agosto de 1978, a organização publicou seu primeiro manifesto, no jornal La Prensa, em que reclamavam pelos bebês desaparecidos. As associações de mães (Madres) e avós (Abuelas) tornaram-se referência na busca pela identificação de crianças e militantes desaparecidos, cujos filhos e filhas foram entregues a outras famílias e nunca souberam de suas origem. O nome faz referência à Praça de Maio, em Buenos Aires, diante da Casa Rosada, a sede do poder na Argentina, onde elas teimosamente permaneciam, cobrando respostas, denunciando e acionando a Justiça.

Em 1999, Ismael foi à Comissão Nacional pelo Direito à Identidade denunciar o desaparecimento de sua mãe e seu irmão. Em 1976, ele também chegou a ser sequestrado e permaneceu um ano e meio com a família de um militar, mas conseguiu escapar. Marcos estava desaparecido até a última sexta-feira.

Na entrevista coletiva convocada pelas Avós para anunciar a “recuperação” do 128º neto, foi exibida uma foto de uma mulher com dois filhos pequenos. “O único documento que temos de minha mãe”, contou Camilo. Lá estava também um dos irmãos de Rosario, Ramón Ramos. Todos conheceram Marcos. Ou Marquitos, como foi chamado.