Luta

Winnie Mandela inspirou uma geração de ativistas, diz Desmond Tutu

Casada por 38 anos com Nelson Mandela, Winnie manteve acesa a luta liderada pelo marido enquanto ele esteve na prisão

GCIS/Fotos Públicas

Winnie Madikizela-Mandela foi militante contra o apartheid e ícone da luta pela igualdade racial

São Paulo – Para o arcebispo Desmond Tutu, que liderou a Comissão da Verdade e Conciliação após o fim do regime de apartheid na África do Sul, a  “coragem desafiadora” de Winnie Mandela inspirou profundamente uma geração de ativistas na luta antirracista. “Ela negou se abater após a prisão de seu marido, o assédio perpétuo sofrido por sua família pelas forças de segurança, as detenções e proibições”, lembrou Tutu, nesta segunda-feira (2), após o anúncio da morte da ex-mulher do ex-presidente Nelson Mandela, aos 81 anos.

Segundo informações divulgadas pela própria família, Winnie morreu no hospital Milpark, na cidade de Joanesburgo, em decorrência de “uma longa doença pela qual foi hospitalizada várias vezes desde o início do ano”. Em 20 de janeiro passado, ela recebera alta após ser internada com infecção nos rins.

“Ela manteve viva a memória do marido, Nelson Mandela, enquanto ele esteve preso em Robben Island (presídio próximo à Cidade do Cabo), e ajudou a dar à luta pela justiça na África do Sul uma das suas faces mais reconhecíveis”, diz o comunicado. 

Winnie foi casada com o ex-presidente sul-africano por 38 anos, entre os quais 27 anos ela passou longe do marido, durante o tempo que Mandela passou na prisão – primeiro na ilha de Robben Island e, mais tarde, nas prisões de Pollsmoor e Drakenstein.

A imagem do casal caminhando de mãos dadas no dia da libertação de Mandela, em 1990, correu o mundo. Dois anos mais tarde, eles se separariam. O divórcio saiu em 1996, após um longo processo que envolveu revelações de infidelidade por parte de Winnie.

Luta antiapartheid

A ativista sul-africana nasceu em 26 de setembro de 1936 na província do Cabo Oriental, no sul do país, e, aos 19 anos, recebeu seu diploma de assistente social, uma exceção para uma mulher negra naquela época.

Winnie se casou com Mandela em junho de 1958 – ela com 21 anos e ele com quase 40, pai de três filhos e recém-divorciado de sua primeira mulher, Evelyn Ntoko Mase.

Com a prisão do marido, ela assumiu a liderança da luta contra o governo de minoria branca na África do Sul, mas passou a ser vista como uma ameaça para o movimento de libertação depois que começou a enfrentar acusações de assassinato e tortura contra supostos traidores.

Sua reputação foi fortemente prejudicada após um discurso proferido em 1986 endossando uma prática conhecida como “necklacing” como punição para traidores da causa defendida pelo Congresso Nacional Africano (CNA), de seu marido. O termo se refere ao método brutal de colocar um pneu em volta do pescoço de alguém e atear fogo.

Winnie foi presa diversas vezes por suas atividades antiapartheid. Em 1991, foi julgada e condenada a seis anos de prisão – sentença posteriormente convertida em multa – pelo sequestro de um jovem militante, Stompie Seipei.

Em 1998, a Comissão da Verdade e Reconciliação, encarregada de julgar os crimes políticos durante o apartheid, considerou Winnie “politicamente e moralmente culpada de enormes violações dos direitos humanos”. Ela negou envolvimento em qualquer assassinato.

O arcebispo Desmond Tutu, que liderou a comissão, falou sobre ela na ocasião: “Ela foi uma tremenda fortaleza em nossa luta e um ícone da libertação – mas algo deu errado, terrivelmente e gravemente errado”.

Após Mandela ter sido eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, em 1994, Winnie ocupou o cargo de vice-ministra em seu governo, sendo mais tarde demitida por insubordinação. Em 2009, renovou a carreira política ao conquistar um assento no Parlamento sul-africano.

Recentemente, ela contou que visitara o ex-marido com frequência em seus últimos meses de vida, tendo estado presente quando ele morreu, em dezembro de 2013.

Com informações da DW Brasil

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