Relações exteriores

Liderança do Brasil na América do Sul se esvazia com Michel Temer

'Crise interna que vive o governo Temer faz com que o país não tenha uma posição firme nem de liderança no atual momento. Quem está assumindo um papel mais ativo é Macri', diz especialista da Unesp

Temer e o ex-vice-presidente dos EUA, Joe Biden, em setembro, em encontro em Nova York: interesses comuns

São Paulo – A crise política e a enorme impopularidade e falta de credibilidade do presidente Michel Temer se refletem nas relações internacionais do país. O papel de liderança regional do Brasil, na América do Sul, e de interlocutor junto a diversos líderes mundiais vem se esvaziando. E o presidente da Argentina, Mauricio Macri, vem tentando ocupar esse espaço.

“A crise interna que vive o governo Temer, um governo de transição, faz com que o Brasil não tenha uma posição firme nem de liderança no atual momento”, diz Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

“Quem está assumindo uma posição mais firme é a Argentina. O Brasil regrediu em relação ao que era, principalmente durante o governo Lula. Diante da crise  do Brasil, Temer está voltado à questão interna e tenta levar à frente suas políticas e reformas. É um presidente com pouca credibilidade, e isso se manifesta na posição internacional do Brasil. Quem está assumindo um papel mais ativo é a Argentina de Macri”, avalia Ayerbe.

Ele menciona como exemplos o encontro do argentino com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no final da abril, e a viagem que Mauricio Macri está fazendo ao Oriente esta semana. Hoje (17), Macri e o presidente chinês, Xi Jinping, se reuniram em Pequim e “se comprometeram” a desenvolver conjuntamente um projeto para a construção de duas usinas nucleares na Argentina. O financiamento será chinês, no valor de US$ 12,5 bilhões.

Em fevereiro, Macri disse a jornalistas espanhóis que já havia conversado com Donald Trump e na ocasião manifestou sua posição sobre a Venezuela de Nicolás Maduro, que vive grave crise política. “Basta de eufemismos, a Venezuela não é uma democracia”, sentenciou o argentino.

Em 2 de dezembro, Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai suspenderam a Venezuela do Mercosul, sob a alegação de que o país não cumpriu o protocolo de adesão. A decisão foi anunciada pelos chanceleres Susana Malcorra (Argentina), José Serra (Brasil), Eladio Loizaga (Paraguai) e Rodolfo Nin Novoa (Uruguai). No dia 14 de dezembro, a Argentina assumiu a presidência rotativa do bloco.

Na segunda-feira (15), o ministro da Defesa brasileiro, Raul Jungmann, afirmou que o Brasil se prepara para receber oficialmente refugiados venezuelanos que fogem do conflito político no país bolivariano.  

Jungmann disse ainda que o país está elaborando um “plano de contingência” para o caso de os conflitos se agravarem. Segundo a Agência Brasil, o governo de Roraima calcula ter recebido cerca de 30 mil venezuelanos.

Para Luis Fernando Ayerbe, independentemente da clara posição do governo brasileiro diante da crise da Venezuela e da participação do país andino no Mercosul, o Brasil eventualmente receber refugiados venezuelanos, a priori, não configura um posicionamento político. “A questão é se esses refugiados vão ter status de refugiados políticos. Uma coisa é você receber refugiados por uma questão humanitária, como no caso dos haitianos, outra coisa é você dar o caráter de refugiados políticos fugindo de um regime.”

A presença da Venezuela no Mercosul passou a receber forte oposição do Brasil, a partir do governo Temer, com José Serra no Ministério das Relações Exteriores, depois substituído por Aloysio Nunes Ferreira. Ambos são do PSDB.

Em setembro, após encontro com o presidente Michel Temer em Nova York, o então vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse em nota que a reunião serviu para discutir “uma cooperação maior entre os Estados Unidos e o Brasil”.

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