Colômbia

Vitória do ‘não’ é a dos fascistas subordinados aos EUA, diz jurista

Para Juarez Tavares, professor da Uerj e observador internacional do plebiscito, derrota do acordo de paz entre o governo e as Farc é uma infelicidade. “Éramos 250 observadores. Muitos choraram”

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Juarez Tavares: Nas zonas de conflito, onde o povo sabe o que significa a guerra, o ‘sim’ ganhou com mais de 90%

São Paulo – Os eleitores colombianos, em votação apertada, rejeitaram o acordo de paz assinado entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). No plebiscito realizado neste domingo (2), o “não” recebeu 50,2% dos votos para a pergunta: “Você apoia o acordo final para o fim do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura?”. O “sim” somou 49,8% dos votos. O plebiscito teve 12,8 milhões de votos válidos. O número de eleitores que se cadastraram para votar foi 34.899.945 e 37,42% compareceram às urnas. Para que o acordo fosse ratificado, era necessário que o “sim” alcançasse 13% dos votos de todos os colombianos aptos a votar, ou seja, 4,5 milhões de votos, e ser superior em números absolutos ao “não”.

“Agora, imaginem vocês. Estou na Colômbia como observador internacional do acordo de paz. Estou completamente decepcionado com a vitória do não, que é a vitória dos fascistas, subordinados aos americanos. Uma infelicidade para os colombianos. Éramos 250 observadores. Muitos choraram”, disse o jurista brasileiro Juarez Tavarez, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em mensagem divulgada nas redes sociais. Tavarez integrou o coletivo de observadores internacionais do plebiscito. “Para se ter uma ideia da votação: em Medellín que é reduto de direita o ‘não’ ganhou com mais de 70%, mas nas zonas de conflito, onde o povo sabe o que significa a guerra, o ‘sim’ ganhou com mais de 90%. Ocorre que a zona de Medellín é como São Paulo, com grande população e a zona de conflito é zona agrária.”

Segundo o jurista, o acordo – negociado há anos com o objetivo de encerrar um conflito que já dura 52 anos – tem coisas extraordinárias. “Prestem atenção apenas numa delas: a criação do Defensor do Povo, que atua no Parlamento como se fosse um Tribuno da Plebe. Esse defensor terá o poder de determinar a suspensão de processos em que os diretos fundamentais sejam violados. Quando li, pensei logo no (juiz Sérgio) Moro. Infelizmente isso vai ficar para trás. O mundo está louco. Prefere a guerra”, lamentou.

Em pronunciamento, o presidente da Colômbia, Juan Manoel Santos, afirmou que convocará todas as forças políticas nesta segunda-feira (3), em particular as que se manifestaram pelo “não”, para ouvi-las, abrir espaço de diálogo e determinar o caminho a seguir. Santos disse ainda que representantes do governo vão procurar os negociadores das Farc. “Vamos decidir, entre todos, qual o caminho que devemos tomar para que essa paz que todos queremos seja possível e saia mais fortalecida dessa situação, Não me renderei, seguirei buscando a paz até o último minuto do meu mandato porque esse é o melhor caminho para deixar um país melhor para nossos filhos”, disse.

Um dos grandes opositores do não foi o senador e ex-presidente Álvaro Uribe, de extrema-direita. Santos havia sido reeleito no ano passado tendo principal bandeira finalizar o conflito armado no país.

Furacão

A passagem do furacão Matthew pelo país dificultou, especialmente no litoral atlântico, a votação, tendo atingido um potencial de 4 milhões de votantes. Os locais mais afetados foram os departamentos de La Guajira, Magdalena, Bolívar e Atlântico, incluída Barranquilla, sua capital, onde chove sem parar desde o amanhecer. Em Aracataca, onde nasceu o prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, a votação nem chegou a ser iniciada. O prefeito local, Pedro Sánchez, disse que 70% do perímetro urbano está inundado, incluindo os postos de votação. Apesar dos transtornos causados pelo fenômeno, o período de votação não foi adiado.

Com informações de Agência Brasil e Opera Mundi

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