América do Sul

Venezuela anuncia que assume presidência rotativa do Mercosul

“Estamos em uma situação muito grave”, disse o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, sobre a maior crise político-diplomática da história do bloco

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Sob oposição de Brasil e Paraguai, Venezuela de Nicolás Maduro comanda bloco em meio a crise

São Paulo – “Creio que teremos um sinal (sobre o futuro do Mercosul) no dia em que a Venezuela convocar uma reunião.” Assim o chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, avaliou a atual situação do bloco, após o Ministério das Relações Exteriores de Nicolás Maduro comunicar, por carta, que assumirá a presidência da organização. A informação foi divulgada pela Agência Efe no final de semana.

Na sexta-feira (29), o Uruguai comunicou oficialmente aos integrantes do Mercosul que dava por encerrada sua presidência rotativa do bloco, de acordo com as normas do Protocolo de Ouro Preto, assinado em 17 de dezembro de 1994.

“A partir de hoje, a República Bolivariana da Venezuela assumirá o exercício da presidência pro tempore do Mercosul, com fundamento no artigo 12 do tratado de Assunção e em correspondência com o artigo 5 do Protocolo de Ouro Preto”, informa a carta venezuelana.

“Estamos em uma situação muito grave”, disse o chanceler uruguaio, diante da maior crise político-diplomática da história do bloco, de acordo com vários jornais sul-americanos e uruguaios.

Na sexta-feira (29), 16 partidos de esquerda de países do bloco, entre os quais PT e PCdoB,divulgaram uma nota comunicado em que manifestam apoio à transferência da presidência temporária para a Venezuela.

“O Mercosul não pode ser utilizado na luta política que setores da direita travam contra o governo legitimamente eleito da República Bolivariana da Venezuela. Isso não apenas enfraquece seu acervo histórico e é antidemocrático como também é um grave precedente que ameaça a união e a integração possibilitada pelo Mercosul”, diz o texto.

Em artigo publicado no mês passado, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e o sociólogo Marcelo Zero, assessor da Liderança do PT no Senado, afirmaram que o “Braxit”, como chamam a tentativa do Brasil de, segundo eles, deixar o Mercosul, é “uma saída pela direita, motivada pelos interesses de uma pequena minoria e inspirada por uma profunda ignorância sobre o significado do Mercosul e da integração regional para o Brasil”.

“Dificilmente, um erro grotesco como esse do abandono do Mercosul, o Braxit, seria aprovado no contexto correto de uma eleição democrática. Porém, o golpe em curso no Brasil permite que essas e outras abominações sejam levadas a sério”, afirmam.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, José Serra, aliado ao Paraguai, faz sistemática oposição ao Mercosul e é contra o exercício da presidência pela Venezuela. A Argentina do presidente Maurício Macri faz oposição mais discreta e nos bastidores.