Diplomacia

Cauteloso, Macri encontra Dilma em Brasília e empresários em São Paulo

Novo presidente argentino se reúne com presidenta brasileira e, na capital paulista, diz que 'recessão que afeta o Brasil afeta a Argentina, e recessão argentina afeta o Brasil'

Roberto Stuckert Filho/ PR

“Para os nossos países é fundamental que a relação cresça”, afirmou Macri em Brasília

São Paulo – O presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, fez hoje ao Brasil sua primeira viagem como novo mandatário do país vizinho. Não por acaso, as visitas foram à capital e ao coração financeiro do país. Depois de se reunir com a presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, Macri foi recebido na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) pelo presidente da entidade, Paulo Skaf, e um grupo de empresários.

Tanto em seu discurso para os empresários como na entrevista coletiva após almoço na Fiesp, Macri demonstrou cautela e diplomacia em relação à presidenta Dilma Rousseff. Provocado por jornalistas a falar sobre a crise econômico-política brasileira e em que medida esta afetaria as relações bilaterais, ele afirmou que “as economias estão relacionadas”. “Com a presidenta falamos apenas sobre tratativas sobre o futuro do Mercosul”, disse. “Ambos os países vão melhor quando a economia do vizinho está funcionando bem. A recessão que afeta o Brasil afeta a Argentina, e também a que está afetando a Argentina afeta o Brasil. Os dois países estão em recessão”, disse. Não entrou na questão política brasileira.

Questionado sobre qual o interesse de seu futuro governo em acordos comerciais com a União Europeia e os Estados Unidos, mais uma vez mencionou a presidenta brasileira. “No encontro em Brasília pela manhã, falei com a presidenta acerca de acordo com a União Europeia. Ambos cremos que, simultaneamente, Mercosul e União Europeia têm que colocar sobre a mesa uma proposta de diálogo para começar negociações a sério”, disse. Macri afirmou ainda que o mesmo princípio deve reger as negociações com os Estados Unidos.

Em Brasília, afirmou que “para os nossos países é fundamental que a relação cresça e se consolide. O futuro de ambos países está ligado, por história, cultura, tradição”.

Evitando armadilhas dos jornalistas, afirmou que defende “desenvolver a integração (entre os países do Mercosul) para poder discutir em bloco com os demais blocos do mundo”. Segundo ele, as prioridades nas relações exteriores da Argentina em seu governo serão o Mercosul e a União Europeia. “Numa segunda etapa vamos encarar o Transpacífico”, afirmou, sobre a Parceria Trans-Pacífica (TPP, da sigla em inglês), tentativa dos Estados Unidos de desenhar relações de seu interesse envolvendo comércio de bens e de serviços e propriedade intelectual, outro ponto em que foi questionado. O TPP conta com 11 países signatários até o momento: Canadá, México, Chile, Peru, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Malásia, Cingapura, Vietnã e Brunei.

Aos empresários, disse ser a favor de “desideologizar” o Mercosul. Mas não entrou em detalhes e nem citou a Venezuela, como fez logo após vencer a eleição, quando afirmou que defenderá, na Cúpula de Assunção do Mercosul (em 21 de dezembro), a cláusula democrática para suspender o país chefiado por Nicolás Maduro “por abusos e perseguição a opositores”.

Em Brasília, pela manhã, o presidente argentino desconversou, dizendo que “ambos (Brasil e Argentina) estamos observando com atenção o que vai acontecer neste domingo” na Venezuela, quando serão realizadas eleições parlamentares.

Paulo Skaf saudou o novo presidente argentino dizendo que, como um “liberal”, ele tem uma visão “parecida” com a da Fiesp.“Sua vitória é um sinal de modernidade, de economia liberal e de um Estado que pesa menos na sociedade, e inaugura um novo ciclo no continente. Poderemos comprar mais da Argentina e a Argentina comprar mais do Brasil”, previu. Macri manteve a cautela e declarou que em seu país o setor público e o privado devem “caminhar juntos”.

Com semblante muito sério durante quase todo o tempo, Macri demonstrou bom humor ao falar de futebol: “São Paulo me traz boas lembranças, do Corinthians e do Palmeiras, de quem ganhamos tantas vezes”, disse, sobre duelos de seu time, o Boca Juniors, do qual foi presidente, contra clubes paulistas pela Copa Libertadores da América.

A eleição de Maurício Macri, considerado um liberal, foi bem recebida por setores da indústria brasileira. Segundo matéria da Agência Brasil, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, disse que as montadoras têm boas expectativas de negócios com a Argentina após a vitória de Macri. Ele disse esperar a renovação do acordo automotivo bilateral, que vence em junho de 2016 e cujas discussões começam em janeiro.

Leia também

Últimas notícias