Nova economia

Piketty vai assessorar programa do Podemos, na Espanha

Para o economista francês, autor de 'O Capital no Século 21', eleições espanholas, em dezembro, podem influenciar batalha contra regimes de austeridade e a desigualdade crescente em toda a Europa

Podemos/Divulgação

Álvares, Piketty e Pablo Iglesias, em reunião hoje em Paris que selou parceria por um progama antiausteridade

São Paulo – O economista francês Thomas Piketty vai integrar um grupo de especialistas encarregado de elaborar o programa econômico do partido de esquerda Podemos, na Espanha. Para o economista, autor do livro O Capital no Século 21 e um dos mais respeitados críticos do neoliberalismo e dos regimes de austeridade impostos pelas grandes potências aos países, o partido quer “meter o bedelho” na disputa política com objetivo de construir um alternativa econômica na Espanha. E influenciar o enfrentamento da crise de dimensões globais desencadeada desde 2008.

A abordagem recessiva da crise, tanto por partidos conservadores como os ditos social-democratas – que polarizam as disputas eleitorais nos últimos anos – tem levado ao surgimento de novas forças políticas, como Podemos e Cidadãos, que alcançaram resultados expressivos na eleições regionais de maio na Espanha, e o Syriza, que chegou a vencer as eleições na Grécia.

A eleição presidencial na Espanha será em dezembro. O conservador Partido Popular e o social-democrata PSOE lideram as pesquisas com menos de 30%, com ligeira vantagem do PP. O Podemos aparece com 16%. “Queremos disputar para vencer”, diz o candidato do Podemos, Pablo Iglesias. Para ele, o fato de a Espanha ter maior participação no PIB espanhol do que a Grécia – onde o partido Syriza não conseguiu emplacar um modelo alternativo ao regime de austeridade imposto pela União Europeia – asseguraria maior poder de negociação.

Segundo Piketty, um dos pilares do agravamento da desigualdade no continente europeu é o desemprego. Por isso, uma das tarefas do grupo que vai assessorar o Podemos é elaborar uma plano de garantia de renda, conforme o responsável pela área econô,mica do partido, Nacho Álvarez. O plano tem como objetivo assegurar “que nenhuma família espanhola viva abaixo da linha da pobreza”, e teria como base uma mudança no sistema tributário e uma reforma fiscal de modo a converter o Estado em um “instrumento de melhorar a distribuição de renda”.

“Um dos grandes desafios da economia espanhola é precisamente ao campo de pesquisa em que Piketty é especialista: as desigualdades”, disse Alvarez, lembrando que o acadêmico francês já declarou que a Espanha é um dos países da zona do euro com crescimento mais rápido da desigualdade e que, embora esteja novamente produzido algum crescimento, não é acompanhado por uma mudança nas condições de vida das pessoas.”

Thomas Piketty considera as eleições espanhola ocasião especial: “São muito importantes para mudar a maioria absoluta na Europa. É necessário uma democratização profunda no funcionamento da zona euro e para mim isso é a esperança de mudança que devemos buscar”, disse, após a reunião de hoje (7) em que foi firmado o compromisso de cooperação. Ele também criticou o funcionamento da zona do euro, dizendo que “está em uma má situação económica porque fez escolhas econômicas erradas nos últimos cinco anos”.

Em depoimentos às agências internacionais, Piketty não entrou em detalhes do programa que pretende elaborar, mas deu pistas: “Eu não sei em profundidade as propostas. O importante, no curto prazo, é sair do regime de austeridade e reverter o cenário para um regime de crescimento”.

Com informações de agências internacionais

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