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Crise de refugiados na Europa é também falta de vontade política, diz ONU

‘A Europa já não pode se dar ao luxo de continuar com esta abordagem fragmentada que está criando desespero entre milhares de mulheres, homens e crianças refugiados’, disse representante

UNHCR/I. Prickett

Refugiados sírios cruzando a fronteira para a Turquia

São Paulo – O Alto Comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, defendeu que a crise na gestão dos refugiados sírios na Europa é, antes de tudo, falta de vontade política dos países do continente de solucionar o problema. Hoje (23), chefes de Estado e de governo da União Europeia estão reunidos em Bruxelas para discutir como lidar com a chegada dos refugiados sírios ao continente, em uma cúpula convocada pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a pedido da chanceler alemã Angela Merkel.

“Esta é também uma crise de vontade política combinada com a falta de unidade europeia, o que está resultando em caos de gestão”, disse. “Quando em 1956, 200 mil húngaros fugiram para a Áustria e Iugoslávia, não somente as pessoas foram devidamente recebidas, mas um programa de relocação foi rapidamente posto em prática e 140 mil pessoas foram transferidas para outros países. O que foi possível naquela época deve ser possível agora”, acrescentou.

Na noite de ontem (22), ministros do Interior da União Europeia aprovaram, por maioria, uma resolução sobre a distribuição de 120 mil refugiados sírios, iraquianos e eritreus entre os Estados-membros do bloco, a partir da instauração de quotas por país. Guterres salientou que é essencial aprovar mais 120 mil vagas adicionais para que qualquer programa de relocação seja viável e efetivo.

“A Europa já não pode se dar ao luxo de continuar com esta abordagem fragmentada que mina os esforços para reconstruir a responsabilidade, solidariedade e confiança entre os Estados e está criando caos e desespero entre milhares de mulheres, homens e crianças refugiados”, declarou Guterres. Ele acrescentou que muitos governos e cidadãos se posicionaram a favor do acolhimento de refugiados e que isso precisa ser transformar em uma resposta sólida.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) defende ainda que a realocação dos 120 mil refugiados pode não funcionar de forma efetiva se não houver a criação de centros de recepção adequados nos países onde os refugiados chegam. “Com uma média de 6 mil pessoas chegando todos os dias às costas europeias, isto requer um investimento maciço. Muitas dezenas de milhares de pessoas estão propensas a pedir abrigo e assistência em áreas de recepção a qualquer momento”, disse.

Para ajudar a alcançar o objetivo, o Acnur propôs uma série de medidas a serem adotadas pelos governos europeus, como a criação de instalações na Grécia e Itália para ampliar a capacidade de recepção das pessoas que chegam por mar, o reforço dos mecanismos para retorno humanizado dos que não necessitem de proteção internacional e o fortalecimento financeiro da ajuda humanitária nos países em conflito.

Só neste ano, pelo menos 470 mil refugiados já chegaram à Europa. A maioria vem de zonas de conflito, como a Síria, o Afeganistão e o Iraque. A agência da ONU manifestou profunda convicção de que apenas com uma resposta conjunta a Europa poderá enfrentar a atual crise de refugiados e migrantes.