América Latina

Cristina Kirchner: ‘Lembremos o que éramos em 2003 para não sermos idiotas’

Ao lado de Lula, durante inauguração de hospital em Buenos Aires, presidenta da Argentina cita avanços sociais na América do Sul e alerta sobre esforço do conservadorismo por retorno ao neoliberalismo

Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, aponta placa de hospital que homenageia ex-presidente Lula

São Paulo – A presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, criticou hoje (9), ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva, os especuladores que culpam países em desenvolvimento pela extensão crise econômica mundial. A declaração foi feita em Buenos Aires, durante a inauguração de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no distrito de José C. Paz, província de Buenos Aires. O hospital leva o nome do ex-presidente brasileiro.

Ontem (8), em sua conta no Twitter, a presidenta argentina havia criticado a transferência da responsabilidade da crise econômica para os países em desenvolvimento. “O mundo foi arrastado para a crise de 2008, pela especulação financeira, e nunca se recuperou. O que têm a ver os Brics? Fora o papel de vítimas, não lhes cabe nenhuma outra qualificação”, disse a presidenta.

Em sua fala de hoje, Cristina ressaltou a importância da integração latino-americana e afirmou que enquanto as nações ricas são “praças de especulação financeira”, países como Brasil e Argentina são economias que buscam se consolidar como “praças de produção”. Apesar disso, advertiu que “se observa em toda região, em toda América do Sul, um intento de voltar às políticas neoliberais” que levaram “ao fracasso, à fome e ao desemprego.”

“Peço a cada argentino que, com sua história, sua identidade, suas ideias, pense um instante no que era 2003, não para olhar para o passado como um fiscal, mas para não sermos idiotas, não nos equivocarmos e para que não voltemos a cometer os mesmos erros”, disse. Ela pediu que Lula seja um embaixador ante os países membros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), para que a Argentina possa se somar ao bloco.

Cristina também criticou a postura dos países europeus que fecham as fronteiras para os refugiados de países em guerra. “Somos um país de imigrantes e não quero que nos pareçamos com os que deixam pessoas morrerem em barcos, quero ser como nós somos: solidários, trabalhadores, porque aí está o futuro.”

Assista a vídeos com falas de Lula e de Cristina Kirchner

Heroína

Em seu discurso, Lula comparou as dificuldades enfrentadas por Cristina Kirchner e afirmou que a colega terminará o mandato como uma heroína.

“Espero, Cristina, que o projeto que começou a construir em 2003 (o ex-presidente argentino) Néstor Kirchner e que você continuou, possa ser concluído e continuado, por meio da eleição de outro candidato que leve a frente esse projeto que mudou a história da Argentina”, disse Lula. “Foi junto com Kirchner, com Cristina, com (Hugo) Chávez (ex-presidente da Venezuela), com Evo Morales (presidente da Bolívia), com (Rafael) Correa (presidente do Equador) que nós enterramos a Alca (Área de livre comércio das Américas) aqui em Mar del Plata e fortalecemos o Mercosul.”

O ex-presidente agradeceu a homenagem e lembrou que os modelos de UPA surgiram no Rio de Janeiro e se estenderam por todo o Brasil nos últimos 12 anos. “Fizemos 444 unidades e vamos chegar a 918”, disse. “É uma maneira de evitar que as populações mais pobres tenha de se deslocar a hospitais distantes para recorrer a atendimento. A UPA fazem com que 95% das pessoas prescindam de hospital”, afirmou Lula.

“Em dois temas a Argentina e o Brasil ainda não chegaram em um acordo: se Maradona é melhor que Pelé e se Messi é melhor que Neymar”, brincou Lula, arrancando risos do auditório. “No futebol nós ainda temos divergências, mas no comércio e nas relações políticas eu tenho orgulho de dizer que Brasil e Argentina construíram a mais importante relação entre os dois países e se os dois continuarem unidos, a América Latina estará unida.”

O governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, candidato a presidente apoiado por Cristina Kirchner e líder nas pesquisas para as eleições de outubro, agradeceu a Lula pela experiência das UPA: “Trouxemos essa experiência do Brasil, que enfrentou o mesmo problema de ter ser seu principais hospitais instalados longe das periferias”.

Com informações da Agência Télam

RBA
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