Na Bolívia

Papa defende movimentos sociais em missa em Santa Cruz de la Sierra

Pontífice pede para manter viva a esperança e acabar com a prática de cortar a linha pela parte mais fraca. Do presidente Evo Morales, papa recebeu imagem de Jesus sobre foice e martelo

Jorge Mamani/ABI

Visita do papa à América Latina consolida sua identificação com os governos progressistas

São Paulo – O Papa Francisco celebrou hoje (9) missa campal em sua visita a Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde foi acompanhado por cerca de 2 milhões de pessoas. Em seu discurso, o papa pediu para manter viva a esperança e para acabar com a prática de cortar a linha pela parte mais fraca diante dos problemas sociais.

Em sua passagem pelo país, o Papa Francisco e o presidente da Bolívia, Evo Morales, trocaram vários presentes no Palácio do governo de La Paz. Entre os objetos que Morales entregou ao pontífice, estava uma imagem de Jesus Cristo crucificado sobre uma foice e um martelo, símbolo do comunismo, e um exemplar do Livro do Mar, editado pelo governo boliviano, que explica a disputa centenária do país andino com o Chile por uma saída ao mar. A troca foi feita após reunião privada realizada ontem (8) e que durou quase meia hora no Palácio Queimado.

Em comentário à Rádio Brasil Atual, o sociólogo e colaborador da RBA Emir Sader afirmou que a visita do papa à América Latina “consolida sua identificação com os governos progressistas do continente”. Ele também lembrou que “quando o papa foi eleito, a direita latino-americana ficou excitada, achou que teria um aliado”. Sader destacou, no entanto, que o papa foi mudando de posição gradativamente, deixando a imprensa de direita incomodada.

Segundo Sader, “essa identificação surge no discurso que o papa tem feito, até mesmo na reivindicação de um diálogo para a saída ao mar”, referindo-se à disputa do país de Morales com o Chile em defesa de uma conexão com o Pacífico. “Apesar de na Bolívia a igreja ser identificada com posições de direita, há uma identificação plena do papa com o governo boliviano”. Sader também destaca que Francisco apoia as comunidades indígenas do Equador e da Bolívia, tanto quanto as questões ecológicas. “É uma viagem muito importante em que a imagem do papa vai além das declarações, mas com identidades políticas concretas e claramente progressistas”.

O papa também participou de um congresso mundial de movimentos populares, que conta também com representação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O vice-ministro de Coordenação com os Movimentos Sociais, Alfredo Rada, informou que o Papa Francisco elegeu a Bolívia como sede do II Encontro Mundial dos Movimentos Sociais e Populares porque, na Bolívia há uma participação democrática dos movimentos sociais e sua formação.

Tal evento, do qual participam 900 organizações sociais de diversos continentes, foi inaugurado na última terça-feira (7), no coliseu Municipal de Santa Cruz, pelo presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz do Vaticano, cardeal ganês Peter Turkson.

Ouça o comentário de Emir Sader para a Rádio Brasil Atual:

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