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Divididos, gregos vão às urnas decidir se aceitam ou não novo ciclo de austeridade

Em meio ao controle de capitais, governo garantiu transportes públicos gratuitos em Atenas durante referendo para não dificultar finanças da população

youtube/reprodução euronews

Nas enquetes, o “sim” passou a ter ligeira vantagem, embora a margem de erro aponte para um empate

Pelo menos 10 milhões de gregos irão decidir entre o “sim” e o “não” a um acordo nos moldes dos credores europeus em um referendo convocado hoje (5). Para que validar o resultado, ao menos 40% do eleitorado devem participar do processo. A votação começou à 1h e segue até as 13h (horário de Brasília), após uma breve campanha que foi marcada pela polarização e sob a pressão do fechamento de bancos imposto pelo governo grego no último fim de semana.

Em meio ao controle de capitais, o governo garantiu transportes públicos gratuitos em Atenas, a fim de facilitar a locomoção e não dificultar a situação financeira da população.

Desde o anúncio da criação do referendo, feito pelo primeiro-ministro do país, Alexis Tsipras há nove dias, muitos gregos ficaram confusos e indecisos acerca da decisão do “sim” ou do “não” da proposta de credores, representados pela troika (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional).

A princípio, as pesquisas de opinião apontavam uma vantagem pelo “não”, após ampla campanha do governo, encabeçado pelo partido de esquerda Syriza, que incentiva a população pelo “fim de chantagens” das instituições financeiras internacionais.

Contudo, na medida em que Tsipras foi anunciando medidas de controle de capitais, com o fechamento de bancos e mercados e a restrição de saques a 60 euros diários em caixas automáticos, a população passou a ficar mais apreensiva.

Nas enquetes dos últimos dias encomendadas por jornais gregos, o “sim” passou a ter ligeira vantagem, embora a margem de erro aponte para a possibilidade de um empate, mantendo a disputa ainda acirrada.

Na sexta (3), o centro de Atenas foi palco de duas grandes manifestações que concentravam mais de 40 mil pessoas, pelo “sim” e pelo “não”. Para Tsipras, os cidadãos devem dizer “não” ao “medo” e aos “ultimatos” dos credores.

Nesse panorama, os ministros da troika criticaram nos últimos dias a consulta popular e ressaltaram o seu caráter simbólico. Para o vice-presidente da Comissão Europeia para o Euro, Valdis Dombrovskis, por exemplo, a questão que será feita no referendo “não é realmente válida” já que “reflete uma pergunta sobre um programa que expirou”, após Atenas entrar em default na semana passada.

Confusos com a falta de clareza que esse referendo pode representar a longo prazo, muitos gregos se questionam, para além de um acordo, o futuro de seu país na zona do Euro ou como membro integrante da União Europeia.

Ao longo da última semana, tanto o premiê, Alexis Tsipras, quanto o ministro das Finanças gregos, Yanis Varoufakis, já disseram que, em caso da vitória do “sim”, eles pretendem renunciar. Apesar disso, ontem, Varoufakis disse que, seja qual for o resultado de domingo, o governo deverá voltar à mesa de negociação com credores.

Calote

Na terça-feira (30), a Grécia se tornou o primeiro país de economia considerada “desenvolvida” a dar calote nos últimos 71 anos. Na ocasião, o governo grego deveria ter realizado o pagamento de uma parcela de 1,6 bilhão de euros ao FMI.

Com o ato, o país heleno também se tornou o maior devedor do fundo internacional, uma vez que deve no total 35 bilhões de euros (R$ 120 bilhões, aproximadamente), como resultado do plano de resgate acordado em 2010. Até o final do ano, a nação ainda deve pagar 5,5 bilhões de euros (R$ 19 bilhões).

O Partido Comunista KKE se posicionou contra qualquer acordo entre a Grécia e os sócios europeus e pediu aos seus eleitores pelo voto nulo, rejeitando também a possibilidade de mais um resgate que Tsipras está disposto a assinar.

O “não”, por sua vez, pôs de acordo grupos tão ideologicamente opostos ao Syriza, como a partido neonazista e de extrema-direita Aurora Dourada, que considera necessário dar um golpe nos membros da União Europeia.