crise na zona do euro

Gregos formam filas nos caixas eletrônicos e autoridades tentam retomar negociação

Clima fica tenso entre autoridades europeias depois que primeiro-ministro grego Alexis Tsipras acusa credores de quererem obstruir referendo convocado para o próximo domingo

SPIEF 2015

Tsipras falou aos credores em 19 de junho: saída da zona do euro colocaria em xeque a união monetária da Europa

São Paulo – Enquanto os gregos formam filas nos caixas eletrônicos nesta segunda-feira (29), depois que o primeiro-ministro Alexis Tsipras anunciou ontem que os bancos e os mercados não vão abrir até o dia 7 de julho, as autoridades europeias tentam sinalizar com a continuidade das negociações para evitar o colapso da economia da Grécia. Ontem, ao comentar na TV a necessidade das medidas restritivas, Tsipras culpou o Banco Central Europeu (BCE) e outras instituições por tentar obstruir o referendo convocado para o próximo domingo, no que chamou de um “insulto” que envergonha a democracia europeia.

Na tentativa de se antecipar ao referendo, o comissário europeu dos Assuntos Econômicos, Pierre Moscovici, afirmou que há margem para negociação entre Atenas e os seus credores e revelou que Bruxelas apresenta ainda hoje (29) novas propostas para tentar evitar o default (calote) grego. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, “vai indicar o caminho a seguir”, afirmou Moscovici. Atenas estava a poucos centímetros de distância de um acordo quando as conversações foram interrompidas durante o fim de semana, afirmou Moscovici. “Temos de continuar a dialogar”, frisou, acrescentando que “a porta está sempre aberta às negociações”.

“No domingo à noite houve um cruzamento de telefonemas aqui na Europa, nervosos, com a chanceler alemã Angela Merkel falando com o presidente francês François Hollande, o presidente Obama ligou para a Angela Merkel; Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, ligou para Christine Lagarde, diretora geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), que ligou para o Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), enfim, foi um momento tenso e nesses telefonemas pela primeira vez, essa parte pelo menos dos credores reconheceu a necessidade de alguma maneira continuar a ajuda à Grécia”, afirmou hoje Flávio Aguiar, em comentário para a Rádio Brasil Atual.

Além do risco de colapso da economia grega, estão em questão a estabilidade do euro, a própria União Europeia e a economia mundial. “Pode ser que esse gesto chegue tarde demais”, afirma Aguiar. “As bolsas hoje no mundo inteiro estão em queda, registraram bilhões de perdas em qualquer moeda que você queira pensar”, disse Aguiar. “É um clima meio de Titanic no mundo inteiro neste momento. Não é uma crise como a de 1929, digamos assim, porém, é uma crise grande, a primeira grande crise na zona do euro, há analistas inclusive dizendo que isso aponta para um impasse no Euro e também para uma espécie de fracasso político da União Europeia, que não está conseguindo administrar essa crise”, afirma.

Segundo Aguiar, a crise da Grécia reflete neste momento “a eleição de um governo de esquerda, dentro de um país que pertence à União Europeia e à zona do euro. Isso provocou um terremoto dentro dos fundamentos hegemônicos do neoliberalismo que impera na zona do euro, que não se sabe exatamente como a Grécia se sairá. Pode ser que o país venha a sair da zona do euro”, comentou. Aguiar também diz que o referendo do próximo domingo, quando a população responderá se aceita ou não as condições impostas pelos credores, pode ter fortes desdobramentos políticos. “Ninguém sabe o que vai significar um ‘não’. Um ‘sim’ provavelmente significará o fim do governo da Siriza (partido de Tsipras). Já um ‘não’ significa que ele precisaria voltar à mesa de negociação com os credores”.

Ouça o comentário de Flavio Aguiar para a Rádio Brasil Atual: