crise na zona do euro

Economistas ganhadores do Nobel defendem o ‘não’ no referendo grego

Paul Krugman e Joseph Stiglitz afirmam que referendo do próximo domingo será oportunidade para estancar as medidas de austeridade, ainda que a Grécia corra o risco de sair da União Europeia

Cesar de Luca / Divulgação

Stiglitz: Se o ‘sim’ ganhar, depressão será quase sem fim; país está empobrecido e precisa do perdão da dívida

São Paulo – Os economistas Paul Krugman e Joseph Stiglitz, ambos ganhadores do Prêmio Nobel, defenderam hoje (29) que os gregos devem votar “não” no referendo, considerando que, sem mais medidas de austeridade, podem ter esperança no futuro.

No seu artigo de hoje, no The New York Times, Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008, escreve que “a Grécia deve votar ‘não’ e que o governo grego deve estar preparado, se necessário, para sair do euro”, argumentando que é verdade que o executivo grego “estava gastando acima das suas possibilidades no final dos anos 2000″, mas que, “desde então, cortou repetidamente despesas e aumentou impostos”.

“O emprego público caiu mais de 25% e as pensões (que eram de fato muito altas) têm sido cortadas abruptamente. Se a isto se somarem todas as medidas de austeridade, fizeram mais do que o suficiente para eliminar o déficit, e passaram a ter um amplo excedente”, nota Krugman.

A explicação para que a correção não tenha acontecido na Grécia é que “a economia grega entrou em colapso, devido a muitas medidas de austeridade, que afundaram as receitas” do Estado, defende o economista norte-americano, acrescentando que esse colapso “esteve muito ligado ao euro, que amarrou a Grécia em uma camisa-de-forças econômica”.

Krugman aponta três razões para que os gregos votem “não” no referendo: a primeira é que, após cinco anos de duras medidas de austeridade, “a Grécia está pior do que nunca”; a segunda, é que “o tão temido caos gerado por um Grexit (saída da Grécia da zona euro) já aconteceu, os bancos estão fechados e há controle de capital; a terceira é que “ceder ao ultimato da troika – Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional (FMI), credores da Grécia – iria representar o abandono final de qualquer pretensão de independência grega”.

O Nobel da Economia de 2008 deixa um apelo aos gregos: “Não se deixem levar pelos que dizem que os oficiais da troika são só tecnocratas explicando aos gregos ignorantes o que tem de ser feito. Estes pretensos tecnocratas são, de fato, fantasistas, que desconsideraram tudo o que sabemos sobre macroeconomia, e que estiveram sempre errados. Isto não é sobre análise, é sobre poder – o poder dos credores para dispararem sobre a economia grega, que vai persistir enquanto a saída do euro for considerada impensável”.

Para Krugman, é tempo de pôr fim a esta visão de que sair do euro é impensável, ou então de que a Grécia vai se confrontar com uma austeridade interminável, com uma depressão sem solução e sem fim.

Também Joseph Stiglitz, ganhador do Nobel da Economia em 2001, assina hoje (29) um artigo no jornal britânico The Guardian, intitulado “Como eu votaria no referendo grego”. Stiglitz reconhece que “nenhuma alternativa – aprovação ou rejeição dos termos da troika – vai ser fácil, e ambas implicam riscos. Ele sublinha que, se ganhar o “sim”, isso vai significar uma depressão “quase sem fim”.

“Talvez um país empobrecido – que vendeu todos os seus ativos, e cujos jovens brilhantes emigraram – possa finalmente conseguir um perdão da dívida. Talvez, transformando-se em uma economia de rendimentos médios, a Grécia possa finalmente concordar com assistência do Banco Mundial. Tudo isto pode acontecer na próxima década ou talvez na década seguinte”, resume o economista, ao retratar o futuro da Grécia, caso os gregos aceitem as condições que os credores internacionais estão pedindo.

Já em um cenário em que os gregos votem “não”, no referendo de 5 de julho, Stiglitz considera que isso “pelo menos iria abrir a possibilidade de a Grécia, com a sua forte tradição democrática, ter a oportunidade de decidir o seu destino por si”.

“Os gregos podem ganhar a oportunidade de desenhar um futuro que, ainda que não seja tão próspero como no passado, é de longe mais esperançoso do que a tortura sem consciência do presente”, afirma o economista.

A crise que opõe o governo grego aos credores internacionais assumiu um rumo inédito, depois do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ter anunciado, na sexta-feira (26) à noite, a convocação de um referendo sobre o programa apresentado pelos credores para desbloquear ajuda financeira ao país.

No sábado, o Eurogrupo se recusou a prolongar o programa de assistência financeira à Grécia, que termina nesta terça-feira, dia 30. A Grécia, que enfrenta problemas de liquidez, se arrisca a entrar em default (calote), tendo que pagar, até terça-feira à noite, 1,6 bilhão de euros ao FMI.

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