Luto

Dilma: morte de Galeano é perda para os que lutam pela América Latina

Presidenta prestou homenagens para uruguaios e familiares do escritor; ex-presidente Lula e MST publicam nota de pesar

Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Eduardo Galeano é autor de mais de 40 obras, entre as quais o emblemático “As veias abertas da América Latina”

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentaram a morte, hoje (13), do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, aos 74 anos, em Montevidéu. “Hoje é um dia triste para todos nós, latino-americanos. Morreu Eduardo Galeano, um dos mais importantes escritores do nosso continente. É uma grande perda para todos que lutamos por uma América Latina mais inclusiva, justa e solidária com os nossos povos”, disse Dilma, em nota divulgada pela Secretaria de Imprensa da Presidência da República.

“Aos uruguaios, aos amigos e à nossa imensa família latino-americana, quero prestar minhas homenagens e lembrar que continuamos caminhando com os olhos no horizonte, na nossa utopia”, escreveu Dilma, em referência a uma frases célebre de Galeano.

“Foi com pesar que recebi a notícia do falecimento do escritor e historiador Eduardo Galeano. Sua obra é referência para todos aqueles que lutam por uma América Latina mais desenvolvida, justa e integrada”, disse Lula por meio de nota divulgada no site que leva o seu nome.

“Galeano viveu importantes e difíceis momentos da história da nossa região e escreveu sobre eles com maestria”, acrescentou Lula. “Que sua obra e seu exemplo de luta permaneçam como inspiração para que possamos construir a cada dia um futuro melhor para a América Latina. Neste momento de perda, solidarizo-me com seus familiares e amigos.”

MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra também divulgou nota de pesar na qual destacou o sofrimento vivido por Galeano no exílio. “A perseguição política que sofreu dos governos ditatoriais, que assolou o continente latino americano, sob o patrocínio dos governos estadunidenses, forçou-o a viver doze  anos no exílio (1973-1985), numa frustrada tentativa de isolá-lo do seu povo e enfraquecer seu amor por seu país. Seus algozes desconheciam o sangue, latino-americano, que corria em suas veias”, diz o MST. As Veias Abertas da América Latina, de 1971, é a obra mais conhecida de Galeano.

“O exílio e as ditaduras latino-americanas forjaram sua têmpera revolucionária. E a radicalidade de sua atuação política foi sempre alimentada por um intransigente humanismo e solidariedade em defesa de todas as vítimas do sistema opressor”, acrescenta o MST. “Sabia que uma nova realidade seria protagonizada pelo povo oprimido. Escreveu: ‘O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos faz crer a religião. O corpo é uma festa’. Uma festa que um dia, sob o legado que esse companheiro nos deixou, irá se realizar nesse continente, onde não haverá exploradores e explorados.”

História

Galeano nasceu em 1940, em Montevidéu. Começou no jornalismo na década de 1960. Em 1971, publica sua obra mais conhecida, As Veias Abertas da América Latina, que se tornou um clássico entre intelectuais de esquerda da região. “Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia. Nossa riqueza gerou sempre nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. (…) o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominados para fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga”, disse o escritor.

Após o golpe no Uruguai, em 1973, Galeano foi preso. Posteriormente exilou-se na Argentina, e em 1976 mudou para a Espanha. Na Europa, começou a escrever a trilogia Memória do Fogo, com os livros Os Nascimentos, as Caras e as Máscaras e O Século do Vento. Com o fim da ditadura uruguaia, em 1985, retornou a Montevidéu.

O escritor lançou mais de 40 obras. Além das já citadas, algumas de suas principais publicações são De Pernas pro Ar, Dias e Noites de Amor e de Guerra, Futebol ao Sol e à Sombra, O Livro dos Abraços, As Palavras Andantes e Vagamundo.

Em 1975 e 1978, Galeano recebeu o prêmio Casa de Las Américas. A trilogia Memória do Fogo foi premiada pelo Ministério da Cultura do Uruguai em 1982, 1984 e 1986, anos de lançamento de cada um dos três livros. Nos Estados Unidos, o escritor e jornalista foi homenageado com o American Book Award, em 1989, e com o Prêmio à Liberdade Cultural, da Lannan Foundation, em 1999. Em 2001, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade de Havana, em Cuba.

Galeano esteve no Brasil em 2014, quando abriu a 2ª Bienal do Livro de Brasília. Na ocasião, ele surpreendeu todos ao informar que não leria novamente “As Veias Abertas…”. “Para mim, a prosa da esquerda tradicional é pesadíssima. Meu físico (atual) não aguentaria. Eu cairia desmaiado”, brincou.

Galeano morreu devido a complicações de um câncer de pulmão, que já havia sido tratado em 2007.

Com informações da Agência Brasil

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