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Para Dilma, Petrobras entra em nova era após balanço com apuração de prejuízo da Lava Jato

Em encontro com a presidenta da Coreia do Sul, Park Geun-hye, no Palácio Itamaraty, Dilma assinou nove acordos de cooperação na área de tecnologia

Antonio Cruz / Agencia Brasil

Líderes assinaram nove atos institucionais de cooperação que devem trazer inovações tecnológicas ao Brasil

Brasília – A presidenta Dilma Rousseff confirmou hoje que a divulgação do balanço de 2014 da Petrobras marca uma nova fase da empresa. Enquanto aguardava a chegada da presidenta sul-coreana, Park Geun-hye, no Palácio Itamaraty, Dilma foi perguntada pelos jornalistas se a divulgação marcava uma nova era da petrolífera brasileira e respondeu: “sem sombra de dúvida”.

O balanço auditado de 2014 da Petrobras foi divulgado na quarta-feira (22) e mostrou que aestatal teve um prejuízo total de R$ 21,6 bilhões, sendo R$ 6,2 bilhões com perdas referentes à corrupção. No mesmo dia, o atual presidente da empresa, Aldemir Bendine, pediu desculpas, em nome dos empregados da estatal, pelas irregularidades ocorridas na companhia.

“Eu hoje represento a companhia. A Petrobras foi vítima de tudo isso pelo que ela passou. Somando-me aos 86 mil empregados do sistema Petrobras, sim, a gente está com o sentimento até de vergonha disso que a gente vivenciou, desses malfeitos que ocorreram”, disse Bendine, após a divulgação do balanço.

Após almoço oferecido em homenagem à presidenta sul-coreana, Dilma voltou a falar sobre a importância da divulgação do balanço de 2014 da estatal com a imprensa. “Eu considero muito importante a aprovação do balanço, porque a Petrobras vira uma página, acerta seu passo, e tenho certeza de que a Petrobras vai dar ainda muitas alegrias para nós nos próximos meses e anos”.

A presidenta destacou que a estatal receberá, pela terceira vez, o OTC Distinguished Achievement Award, maior prêmio concedido a uma empresa de petróleo por seu desenvolvimento tecnológico, e reforçou que a Petrobras superou as questões ligadas à Operação Lava Jato. “Ao concluir e registrar o seu balanço ela mostra também que superou todos os problemas de gestão ligados à questão da Lava Jato que, porventura, ainda estivessem pesando, justamente pela necessidade de se fazer o registro das perdas”, disse.

Acordos

Dilma e Park Geun-hye assinaram hoje nove atos institucionais de cooperação que devem trazer inovações tecnológicas ao Brasil, além de proporcionar o intercâmbio de especialistas. Entre os acordos firmados está a colaboração em pesquisa e desenvolvimento de comunicação 5G, nova geração da comunicação móvel e a cooperação bilateral na área de energia nuclear.

Os dois países criaram o Programa de Cooperação em Tecnologia da Informação Brasil-Coreia. Os acordos de cooperação que envolverão empresas, universidades, centros de pesquisa. Essas iniciativas conjuntas gerarão oportunidade de negócios e o desenvolvimento de alto conteúdo tecnológico que atendam os mercados nacionais e internacionais.

Entre as informações a serem intercambiadas estão governança da Internet; comunicações móveis em 5G; e aplicação de big data, que se trata da análise de grandes quantidades de dados para a geração de resultados importantes que, em volumes menores, dificilmente seriam alcançados. O acordo trata também da aplicação de M2M, a chamada Internet das Coisas, que possibilita a comunicação entre diversos objetos, enviando e recebendo informações e dados por meio de óculos, relógios e outros objetos que possam usar a internet.

No que diz respeito a geração de energia, os países vão colaborar na área de energia nuclear por intermédio de troca de dados, experiências, visitas e trabalho conjunto entre a Eletronuclear/Eletrobrás e a Korea Electric Power Company (KEPCO). Dilma ressaltou a colaboração como importante para reduzir as emissões de gás carbônico produzidos a partir da produção de energia termoelétrica, por exemplo, usada pelo Brasil. Ela destacou a ação como uma colaboração a nível mundial para a questão do clima.

Entre os nove atos, está também o memorando de entendimento entre a Vale S.A (empresa mineradora) e o Korea Eximbank. A instituição coreana pretende financiar com US$ 2 bilhões projetos da Vale envolvendo empresas coreanas. Dilma aproveitou a ocasião para anunciar que pretende inaugurar a Companhia Siderúrgica do Pecém, no Ceará, até o início do ano que vem. A siderúrgica é uma parceria entre a empresa brasileira Vale e as coreanas Dongkuk e Posco.

Serão fortalecidos os laços de comércio entre pequenas e médias empresas. Um dos atos trata especificamente das trocas de conhecimento para redução do uso do papel no comércio. Por meio dos acordos comerciais, Dilma pretende ampliar e diversificar o comércio de bens com maior valor agregado.

Além dos nove atos, foi assinado o protocolo adicional à Convenção destinada a evitar dupla tributação e prevenir a evasão fiscal em matéria de impostos sobre a renda para emendar a Convenção original assinada em 1989 entre os dois países de modo a atualizar questões relativas a troca de informações.

A Coreia do Sul é responsável por aproximadamente US$ 3 bilhões em investimentos no Brasil, principalmente nas áreas automotiva, de semicondutores e de siderurgia. Entre 2009 e 2014, o comércio bilateral entre Brasil e Coreia do Sul passou de US$ 7,47 bilhões para US$ 12,35 bilhões. O saldo da balança comercial tem sido negativo para o Brasil, chegando a praticamente US$ 4,7 bilhões em 2014. As exportações brasileiras somaram US$ 3,83 bilhões enquanto as importações ficaram em US$ 8,52 bilhões no ano passado. Em 2009, o déficit estava em US$ 2,16 bilhões.

Uma das questões tratadas no encontro foi o rompimento das barreiras coreanas para a importação da carne suína produzida em Santa Catarina para melhorar a situação deficitária da balança comercial com aquele país. A carne suína brasileira encontra dificuldades no mercado porque a Coreia não aceita o chamado Princípio da Regionalização – segundo o qual bastaria a uma unidade federativa, e não ao país como um todo ter certificação sanitária internacional para exportar carne. Dilma disse que a carne é referência de qualidade para mercados exigentes como os Estados Unidos, o Japão e a China. Mas não foi anunciada decisão nesse sentido.

A empresa sul coreana Samsung também firmou acordo de cooperação com o governo brasileiro, identificando e recomendando projetos, inclusive startups para participarem dos acordos de cooperação e serem incorporados às atividades da empresa no Brasil. Em cinco anos, a Samsung vai investirá US$ 5 milhões no projeto. A empresa atuará junto à Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e o Centro de Economia Criativa e Inovação (CCEI) Daegu, coreano.

Após encontro com a presidenta Dilma, Park Geun-hye vai para São Paulo, onde participa de um encontro empresarial organizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela Câmara coreana de comércio e indústria.

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