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Tabaré Vázquez diz que Mujica será referência para seu segundo mandato

Pouco antes da cerimônia de posse na presidência do país, Tabaré Vázquez disse à imprensa, sem detalhes, que seu governo se baseará em três pilares; ao transferir o cargo, Mujica pediu apoio do povo ao antecessor

Gastón Pimienta/efe

Tabaré Vázquez (c), o vice-presidente, Raúl Sendic, e a presidenta do Senado, Lucía Topolansky, na posse

Montevidéu – Poucos minutos antes de assumir a presidência da República do Uruguai, perante a Assembleia Geral, reunida no Palácio Legislativo, Tabaré Vázquez disse à imprensa na manhã deste domingo (1°) que esta noite fará importante anúncio de sua próxima gestão, que será baseada em três pilares. Disse também que seu antecessor, José Pepe Mujica, será um ponto de referência e que a relação dos dois vai ser como “sempre foi”. “Nos conhecemos há muitos anos, temos um trato fraterno e próximo, e vai continuar assim. Claro que ele não é um simples cidadão porque já teve o título de presidente e foi uma figura importantíssima no contexto nacional e internacional”, disse, acrescentando que espera também ter uma boa relação com a oposição.

Na cerimônia de posse, jurou trabalhar para proclamar, difundir e honrar os princípios sociais e valores de José Gervasio Artigas, o herói da construção do país. “Liberdade, educação, igualdade, justiça, democracia, determinação, solidariedade, integração, respeito aos uruguais e à Constituição (…) me comprometo a respeitar e fazer respeitar os valores humanos proclamados por Artigas”, disse, perante mais de 100 delegações estrangeiras.

Antes do discurso, Vázquez saudou Mujica e exaltou os 30 anos ininterruptos de democracia no país. Ainda assim, considerou que poucas vezes a humanidade se viu tão sacudida e golpeada com a violência, o medo, o terror e a intolerância que “ronda  diversas regiões do planeta”, referindo-se aos conflitos bélicos, “que parecem não acabar; as mortes que poderiam ser evitadas em todo o mundo; a intolerância religiosa, étnica ou sexual”.

Raúl Sendic, vice-presidente, também tomou posse nesta manhã.

Mujica pediu ao povo uruguaio “que faça todo o possível” para apoiar o governo de seu sucessor. “É um dia de união nacional, da minha parte muito obrigado por tudo o que o povo me deu”, acrescentou um emocionado Mujica em entrevista à imprensa quando abandonava a Praça da Independência de Montevidéu, onde ocorreu a cerimônia de transferência.

O novo líder recebeu das mãos de seu antecessor a faixa presidencial, um gesto que lembrou o que aconteceu há cinco anos na mesma cerimônia, quando a entrega foi ao contrário. “Vou cuidar e capaz que te devolva”, disse em 2010 Mujica ao receber a faixa decorada com as cores da bandeira nacional das mãos de Vázquez.

Além da presidenta Dilma, os presidentes de Cuba, Raúl Castro; Nicarágua, Daniel Ortega; Chile, Michele Bachelet; e do Paraguai, Horacio Cartes, foram ao Uruguai para a posse, assim como o rei Juan Carlos da Espanha e o secretário-geral da União de Nações da América do Sul (Unasul), Ernesto Samper.

As ausências ficam por parte do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e do vice-presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden.

Enquanto Cristina enviou em seu lugar o vice-presidente de argentina, Amado Boudou, Maduro argumentou que a situação atual de seu país não permite se ausentar, e Biden justificou uma gripe como impedimento para viajar.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, também não presenciou a cerimônia. Ele esteve no Uruguai na quinta-feira (26) para se encontrar com Mujica.

Vázquez também disse aos jornalistas neste domingo que julga preocupante a situação vivida pela Venezuela, que enfrenta tentativa de golpe, e ressaltou a necessidade de se respeitar a instituição democrática já que o governo foi eleito pelo povo. “Queremos uma solução pacífica de qualquer. Não pode haver violência nem de uma parte nem de outra”, insistiu

Nesta tarde, Vázquez vai se reunir com a presidenta Dilma Rousseff, que foi a Montevidéu para assistir ao ato de posse. A imprensa local informou que ele também deve se reunir com os representantes dos governos da França e Japão.

Ontem, Dilma manteve uma acirrada agenda na região de Colônia, onde participou da inauguração de um parque eólico, no último ato público de Mujica como presidente, com o qual posteriormente foi à apresentação da matrícula veicular Mercosul.

Histórico

O oncologista Tabaré Vázquez, de 75 anos, assume seu segundo mandato. Ele iniciou sua militância política no Partido Socialista, em 1983, foi eleito o primeiro dirigente da esquerda como prefeito de Montevidéu, em 1989, e em 2004, foi eleito pela primeira vez presidente do Uruguai.

Após governar Uruguai de 2005 a 2010, Vázquez substituirá Mujica, após meia década na qual o Uruguai alcançou altas cotas de exposição mundial favorecidas em parte pela figura de seu último presidente. Os dois pertencem à Frente Ampla. Mujica assume vaga no Senado, após deixar a presidência com aprovação de 65% da população.

Com informações da EFE e Telesur

Em 16 de janeiro, uma greve de dez dias organizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC obteve uma expressiva vitória: garantiu a readmissão de 800 funcionários dispensados pela Volkswagen no início do ano. Berço da carreira política do ex-presidente Lula, o sindicato é liderado atualmente por Rafael Marques, funcionário da Ford e filiado ao PT. Apesar da proximidade com os quadros governistas, o sindicalista incomodou-se com a forma como foi encaminhado o “pacote de maldades” do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que incluem mudanças relevantes em benefícios trabalhistas, entre eles o seguro-desemprego, as pensões e o abono salarial.

“Desde o ano passado, o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, nos alertava sobre a necessidade de mudanças nos benefícios trabalhistas”, afirma. “Mas, da forma como foram encaminhadas, no fechamento do mandato passado, nos puseram para correr atrás.” As medidas de austeridade do governo estimularam os sindicatos vinculados à Central Única dos Trabalhadores, historicamente ligada ao PT, a engrossar os protestos sindicais de janeiro, embora com menor apetite que integrantes da Força Sindical, liderada por Paulinho da Força, aliado de Aécio Neves nas eleições de 2014.

Apesar de compreender os ajustes por causa da “difícil conjuntura internacional”, Marques está preocupado com a falta de comunicação do governo com os trabalhadores. “Os sindicatos e os movimentos sociais precisam de sinais claros de que o diálogo não será interrompido. Ninguém tem dúvidas de que será um ano complicado. Mas precisamos pensar no longo prazo.” Marques confia na atuação de Miguel Rossetto, secretário-geral da Presidência, para contrabalancear a limitada sensibilidade social do Ministério da Fazenda.

Os trabalhadores das fábricas, diz, estão especialmente incomodados com os aumentos salariais concedidos ao Judiciário em dezembro.  Segundo o sindicalista, a classe não pode ser responsável por pagar a conta sozinha. “Para justificar o alto custo do Estado brasileiro, é preciso fazer o máximo pelos mais pobres. Essa filosofia implantada por Dilma e Lula não pode mudar.”