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HSBC: jornal cede a pressões, ignora denúncias e colunista pede demissão

O mais conservador diário britânico é acusado de mau jornalismo e de tratar as acusações recentes contra o HSBC de acordo com interesses e contratos comerciais

© EFE/Martial Trezzini

Fachada da sede do HSBC em Genebra, Suíça, paraíso fiscal para dinheiro de origens duvidosas

Londres – Vários jornalistas do britânico The Daily Telegraph denunciaram censura de notícias do veículo relacionadas a empresas e governos, como os de Rússia e China, por pressões comerciais. Os profissionais revelaram a insatisfação no programa Newsnight, exibido na noite de ontem (18) pela BBC, pouco depois que um conhecido colunista de política do jornal, Peter Oborne, ter pedido demissão pelos mesmos motivos.

Ele acusou o veículo de não fazer uma cobertura adequada sobre o caso da chamada “lista Falciani” – informações sobre contas do HSBC em Genebra (Suíça) que abriga bilhões de correntistas de vários países, num esquema de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Em comunicado divulgado pela internet, Oborne explicou que deixava o cargo após cinco anos ao denunciar que, por interferência da diretoria, o jornal conservador mais prestigiado do país estaria cedendo a interesses comerciais com o HSBC, em vez de apurar devidamente as irregularidades e crimes denunciados.

bbc / reprodução
O colunista político Peter Oborne: indignação em telejornal da BBC

O colunista pediu uma investigação independente sobre a mistura de interesses jornalísticos e comerciais no jornal, que nos últimos meses retomou um acordo publicitário com o banco que tinha perdido anteriormente por “notícias desfavoráveis”. Oborne afirmou que renunciava “por questão de consciência” depois de várias decisões da diretoria lhe parecerem corruptas.

Segundo o colunista, a maioria dos funcionários do jornal não confia no diretor-executivo do Telegraph Media Group, Murdoch MacLennan, nem nos proprietários da empresa, os irmãos David e Frederick Barclay.

No Newsnight, jornalistas apoiaram publicamente a denúncia de Oborne e explicaram casos em que notícias tiveram de ser barradas ou modificadas para satisfazer interesses comerciais.

Exemplos dessas notícias, segundo os profissionais, contrariavam interesses do banco Royal Bank of Scotland, continham informações sobre os governos de Rússia e China e, inclusive, em um caso inédito, a crítica do filme infantil Meu Malvado Favorito 2, que teve de ser “melhorada” por interesses comerciais com a distribuidora.

O órgão britânico de monitoramento dos padrões da imprensa afirmou que o The Daily Telegraph realmente publicou bem menos notícias que outros jornais sobre o escândalo do HSBC e em nenhum deles fez um trabalho de investigação.

O grupo editor do “Telegraph” nega as acusações e garantiu em comunicado que “a distinção entre publicidade e a agraciada atividade editorial” do jornal “sempre foi fundamental” para a empresa. “Negamos qualquer alegação em sentido contrário”, diz a nota, que lamenta que Oborne tenha iniciado “um ataque infundado e cheio de inexatidões” contra a publicação.

Nos últimos dias, a imprensa britânica e do restante da Europa repercutiram a notícia, a partir dos documentos conhecidos como “lista Falciani”, que a filial suíça do banco britânico HSBC escondeu durante anos cerca de 106 mil contas com dinheiro não declarado.

No Reino Unido, o caso da possível fraude fiscal do HSBC chegou ao governo. Em 2011, o primeiro-ministro, David Cameron, nomeou para um cargo oficial Stephen Green, que foi presidente do banco de 2006 a 2010, quando as irregularidades foram cometidas.

Com reportagens da EFE

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