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Grécia vai às urnas neste domingo; Syriza, que defende fim de austeridade, é favorito

Partido pode não atingir maioria absoluta e, neste caso, precisaria se coligar; UE vê com preocupação renegociação de dívidas defendida pelo partido

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Liderado por Alexis Tsipras, Syriza aparece em primeiro lugar em todas as pesquisas eleitorais

Este domingo (22) deve representar um dos momentos mais emblemáticos para a Europa desde o início da crise econômica que já afundou pelo menos quatro países do continente: os gregos vão às urnas e devem dar a vitória a um partido de esquerda que defende o fim das políticas de austeridade.

O Syriza, liderado por Alexis Tsipras, aparece em primeiro lugar em todas as pesquisas eleitorais, com diferenças que vão de cinco a dez pontos percentuais para o centro-direitista Nova Democracia, atualmente no poder. Porém, vencer não quer dizer necessariamente levar: como a Grécia funciona em um sistema parlamentarista, caso o partido não obtenha maioria absoluta, precisará se coligar com outros para formar governo.

O Pasok, de centro-esquerda e outrora muito forte, deve ter um desempenho pífio no pleito – as pesquisas indicam algo como 4% dos votos –, mas disse estar disposto a negociar com o Syriza a formação de um governo. O partido é visto pelos gregos como um dos responsáveis pelo programa de austeridade econômica que, por exemplo, colocou o desemprego entre os jovens na casa dos 60%.

Ou seja: em uma jogada para formar o governo, pode ser necessário que o Syriza se junte àqueles que causaram a atual situação – e contra a qual o bloco de esquerda atualmente luta.

De qualquer forma, ainda é incerto se uma coligação dos dois partidos (com uma eventual entrada dos comunistas) atingiria a maioria necessária para colocar Tsipras como primeiro-ministro grego.

Europa

Uma vitória do Syriza marcaria uma mudança nas relações de poder da União Europeia. O continente, especialmente dentro da zona do euro, tem na maioria dos países governos de centro ou centro-direita (sendo a Alemanha de Angela Merkel e a Espanha de Mariano Rajoy os exemplos mais claros) ou de centro-esquerda mais suscetíveis aos planos de austeridade (vide a França de François Hollande ou a Itália de Matteo Renzi).

Com esta perspectiva, Berlim já mandou um recado claro a Atenas: sim, é possível a Grécia sair do euro sem provocar maiores danos no resto do continente. Por outro lado, na semana passada, membros da União Europeia tentaram baixar a temperatura das declarações das autoridades alemãs, lembrando da “importância” dos gregos no grupo.

O Syriza, no entanto, não defende uma saída unilateral da Grécia da zona do euro. Em um artigo publicado no Financial Times no dia 20, Tsipras afirma que um eventual governo do partido iria respeitar a “obrigação de manter um orçamento equilibrado”, que é uma exigência para os países que usam a moeda única europeia. O que é certo é que as políticas de austeridade implementadas pelo grupo conhecido como troika (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia) vão acabar. “Austeridade não faz parte dos tratados europeus; democracia e o princípio da soberania popular, sim”, afirmou o líder do partido.

A maior pressão da troika diz respeito, na verdade, à questão da dívida externa, que equivalia em 2013 a 175% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Em 2008, no início da crise, esse índice era de 109,3%. O Syriza, se chegar ao governo, vai pedir a realização de uma “conferência do débito europeia”, para renegociar as condições de pagamento às quais a Grécia está hoje sujeita.

A chefe do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, foi assertiva sobre a ideia da conferência e a dívida grega em uma entrevista do jornal Irish Times. “Como princípio, esforços coletivos são bem-vindos, mas, ao mesmo tempo, uma dívida é uma dívida e é um contrato. Defaulting (não pagar a dívida), reestruturação e mudanças de termos têm consequências na assinatura (do contrato) e na confiança sobre a assinatura”, afirmou.

De Davos, onde aconteceu até ontem o Fórum Econômico Mundial, veio outra mensagem. O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, afirmou que a Grécia não poderá usar o pacote de estímulos anunciado pelo Banco Central Europeu (de € 1 trilhão) se recusar os programas de austeridade.

Como será a eleição

Os gregos vão às urnas neste domingo para escolher os novos membros do Parlamento, após o Congresso não ter conseguido escolher o presidente do país, em dezembro. São 300 cadeiras em jogo e, se um partido conseguir a maioria dos votos, ganha 50 vagas a mais, a título de bônus. Isso, no entanto, não deve ser suficiente para assegurar uma maioria absoluta (151 cadeiras) ao Syriza.

Existe, também, uma cláusula de barreira: o partido que não atingir 3% dos votos fica fora do Parlamento.

Com o resultado em mãos, o presidente do país dá ao partido que obteve a maioria absoluta ou relativa o direito de tentar formar um governo. Caso a agremiação não consiga, o direito recai sobre o segundo com maior número de eleitos. Se, ainda assim, não for possível montar um gabinete, uma nova eleição poderá ser convocada.