espanha

Consulta sobre independência da Catalunha tem adesão de mais de 1 milhão de pessoas

Iniciativa substitui a chamada de referendo - feita em meados de 2014 - após o Tribunal Constitucional espanhol declarar o processo ilegal

Toni Albir/Efe

Treinador do Bayern, Pep Guardiola, foi um dos catalães que participaram da consulta sobre independência catalã

São Paulo – Mais de 1 milhão de pessoas votaram neste domingo (09) na consulta popular sobre a separação da Catalunha do governo espanhol. O presidente catalão, Artur Mas – que foi recebido entre aplausos e gritos de “independência” em seu posto de votação -, destacou o sucesso do pleito.

“Apesar de todos os problemas, de todos os obstáculos que nos colocaram, de todos os impedimentos, as pessoas puderam sair às ruas e participar e dar a sua opinião sobre o que será o futuro político da Catalunha”, disse em entrevista à imprensa local.

Puderam votar todos os catalães e estrangeiros com mais de 16 anos residentes na Catalunha. De acordo com o El País, as ruas ficaram lotadas durante todo o dia e os postos de votação tiveram extensas filas.

Quem também participou da votação foi o treinador da Bayern de Munique, Pep Guardiola. O ex-jogador do Barcelona criticou que a consulta popular não tem caráter definitivo em forma de referendo.

“Muita gente (na Catalunha) quer ser escutada. Quando tanta gente que pede, não há leis que o impeçam, e o trabalho dos políticos é escutar”, disse Guardiola.

A iniciativa de hoje substitui a chamada de referendo – feita em meados de 2014 – após o Tribunal Constitucional espanhol suspender o processo de separação em setembro.

Na quinta-feira (06), a Justiça espanhola também proibiu que o governo catalão participasse da consulta popular. Por isso, na manhã de hoje (09), a “execução” do processo foi feita por voluntários.

De acordo com informações da Agência Efe, cerca de 40.930 pessoas – incluídos funcionários e docentes – se encarregaram de organizar a votação, presidir as mesas e de ajudar na apuração.

Nesta sexta (07), o governo catalão apresentou um recurso no Tribunal Constitucional, no qual pede que seja reconsiderada e anulada a impugnação da consulta.

Risco aos voluntários

A vice-presidente do governo, Soraya Sáenz de Santamaría, advertiu Mas de que, com a manutenção da consulta, ele “estará forçando os cidadãos catalães ao descumprimento da lei”.

A declaração de Santamaría foi proferida após o presidente catalão ter assumido a organização do chamado 9-N, mesmo com a suspensão do Tribunal Constitucional. A vice-presidente lançou um requerimento a Mas no qual pede que “nenhum funcionário, nenhum responsável político e nenhum cidadão tenha que tomar decisões neste dia que possa gerar a mínima intranquilidade”.

O governo espanhol declarou que não reconhecerá um plebiscito na Catalunha, classificando-o como ilegal, apesar da pressão dos 7, 5 milhões de habitantes catalães, que detêm 1/5 da riqueza do país.

“Êxito total”

O presidente catalão, Artur Mas, considerou hoje a consulta popular sobre a separação da Espanha um “êxito total”, em que mais de 2 milhões de pessoas deram um “passo de gigante” para decidir o futuro. Mesmo sem que fossem conhecidos os resultados da votação, o dirigente disse que foi “uma data já inesquecível na história da Catalunha”.

Para Artur Mas, os votantes deram “um passo de gigante” no objetivo “amplamente partilhado” de “poder decidir em algum momento, em total liberdade e com plenas garantias” o futuro da região. “Mostraram que a Catalunha é muito grande. Ajudaram, primeiro, com o seu civismo exemplar, em uma jornada de grande civismo. Agradeço também pela lição de democracia, em letras maiúsculas, que deram”, disse.

Artur Mas falou no centro de imprensa criado pelo governo regional para os mais de 600 jornalistas de todo o mundo credenciados para acompanhar a jornada de hoje, quando ainda ocorria a contagem dos votos.

Em catalão, espanhol, inglês e francês, Mas agradeceu aos mais de 40 mil voluntários que permitiriam que a consulta se realizasse, considerando ter para com eles “uma dívida de gratidão pela sua generosidade e sentimento de país”. Depois de agradecer às autarquias e às entidades locais que apoiaram na realização do voto, Artur Mas deixou uma mensagem para as forças que, na Catalunha, apoiam o direito a decidir.

“Essa foi uma simbiose perfeita entre instituições públicas, entidades e tecido associativo e as pessoas. Quando andamos juntos, avançamos mais e melhor. Essa mensagem é importante para os próximos dias, semanas e meses”, disse.

Artur Mas deixou também mensagens para o Estado espanhol, a quem disse que pretendia falar “de forma cordial e amável”, ainda que considerando que a reação do Executivo em Madri ao voto de hoje demonstre “miopia política, indiferença e até intolerância”. Para ele, “Madri tinha uma oportunidade de ouro de, perante uma mensagem potente da sociedade catalã, dar também uma mensagem de que quer resolver a questão de comum acordo”.

Segundo Mas, o voto de hoje e a elevada participação deixaram “muito claro” que a Catalunha quer governar a si própria, “uma velha aspiração do país, feita há séculos”, e que “se mantém perfeitamente viva” e “compatível com a construção politica de uma Europa mais forte e mais unida”. Agora, afirmou, os catalães querem decidir o seu futuro político porque “todas as nações têm o direito a decidir o seu futuro”.

“Demos uma lição de democracia e de participação, reforçando o direito natural que têm todas as nações. Os Estados maduros respeitam e tornam possível que se exerça esse direito, como ocorreu na Escócia ou no Quebec”, disse.

*Com reportagens do Opera Mundi e da Agência Brasil

Leia também

Últimas notícias