análise

Legalização da maconha: Uruguai vê ‘satanização’ do tema no Brasil

Representante do governo do uruguaio, Raquel Peyraube, considera que legalização da maconha deve ser estudada para acabar com estigmas

São Paulo – Para Raquel Peyraube, assessora da Secretaria Nacional de Drogas do Uruguai, um dos grandes obstáculos para a legalização e a regulamentação da maconha no Brasil é a bancada fundamentalista. “O Brasil tem 38% de parlamentares evangélicos que fazem moralização e satanização desse tema”, afirmou nesta segunda-feira (17) à Rádio Brasil Atual.

No Uruguai, as três igrejas com maior influência sobre a população – católica, judaica e representações evangélicas – apoiam a regulamentação. No entanto, Raquel ressalta que o estado é laico, e, por isso, a igreja não deve interferir nas medidas do governo. A assessora diz que as principais medidas para “compreensão social” da legalização da Cannabis foram educacionais.

“Com educação pública nós trabalhamos muito com uma plataforma de conscientização, que fez com que 74% apoiassem a regulamentação do uso medicinal, antes eram apenas 25%”, acrescenta. Raquel considera importante esclarecer que a maior parte da população ainda não concorda com a regulamentação do uso recreativo.

Segundo a representante do governo, a sociedade uruguaia compreendeu que o problema da violência não está só no uso das drogas e que a maconha não é porta de entrada para outras mais perigosas. “Muito pelo contrário, é a porta de saída, eu estou fazendo um protocolo clínico que mostra que o uso de Cannabis de qualidade farmacêutica auxilia muitas pessoas a pararem de usar pasta a base de cocaína”, relata.

Raquel explica que a medida foi “muito” estudada por representantes do governo do Uruguai. O aumento do uso de crack e o narcotráfico foram os principais problemas sociais que levaram o país à regulamentação da maconha. “Não queremos narcotráfico no governo que nem no México e na Colômbia”, afirma.

Sobre o programa do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), “De Braços Abertos”, a especialista diz que é um grande avanço para a saúde pública do país. Lançado em janeiro deste ano, o programa oferece moradias em hotéis, emprego em frente de trabalho, renda de R$ 15 por dia, além de três refeições e curso de capacitação para dependentes químicos da região da ‘cracolândia’.

“Parabenizo São Paulo e suas autoridades. É um avanço muito importante e vão conseguir muitos produtos dessa história. Não somente a segurança das cracolândias, mas esses cidadãos que são estigmatizados”, considera. Nesse sentido, o De Braços Abertos subverte a lógica do encarceramento e internação de usuários de droga.

O Uruguai foi o primeiro país no mundo a legalizar a produção, distribuição e venda de maconha sob o controle do Estado. A representante do governo ressalta que a medida, implementada em setembro de 2013, foi acompanhada de políticas públicas e educacionais de saúde.

Ouça a entrevista completa na Rádio Brasil Atual: