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Uruguai: candidatos de oposição olham para Aécio e se veem no espelho

Enfraquecimento do Mercosul e redução do Estado aproximam candidatos de oposição à Frente Ampla de Mujica ao tucano que disputa o Palácio do Planalto

Iván Franco/EFE

Uruguaios marcham contra redução da maioridade penal: como no Brasil, agenda conservadora pressiona

Porto Alegre – No dia 26 de outubro, Brasil e Uruguai irão às urnas na eleição para presidência da República. No Uruguai, em primeiro turno, em pleito válido também para o Legislativo – 30 senadores e 99 deputados. Além da coincidência de datas, a disputa tem cenário e conteúdos semelhantes. No país vizinho, o Brasil, principal sócio comercial, se tornou fator no cálculo da decisão.Tabaré Vázquez, candidato do governo Pepe Mujica, enfrenta o blanco Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, e Pedro Bordaberry, do Partido Colorado. A oposição se inspira e destaca a identificação com Aécio Neves.

Terceiro colocado nas pesquisas, Bordaberry, por exemplo, afirma que fará a mesma virada realizada pela candidatura do PSDB no Brasil, no primeiro turno. Advogado, filho de Juan María Bordaberry – ditador em 1972 e 1973, e presidente eleito, entre 1973 e 1976 –, o colorado encontrou no desempenho do tucano a esperança de passar para o balotaje, como é chamado o segundo turno por lá. A empolgação é tanta que o candidato se anima até mesmo a fazer discursos em portunhol em localidades de fronteira. E assegura inclusive estar recebendo apoio no mesmo dialeto: “Um paisano de Rivera en portuñol me gritó: ‘Pedro, a virada já começou”, disse ao jornal El Pais.

Jornal de maior circulação no Uruguai, El Pais apóia Lacalle Pou – vale lembrar que o diário foi fundado em 1918 justamente como um veículo do Partido Nacional. Outro filho de presidente – Luis Alberto Lacalle, 1990-1995, e da senadora María Julia Pou –, Lacalle Pou tem 41 anos e pinta de galã de telenovela, na mesma linha de candidato bonitinho, cool, jovem, descolado como Aécio, Collor ou embalagem de margarina. No enfrentamento com Tabaré Vázquez, médico, 74 anos, Lacalle Pou gosta de exibir a vitalidade da juventude e realiza peripécias de atleta de fim de semana, como ficar na posição de bandeira em postes das esquinas da cidade. Uma estrela pop. É a nova direita.

Mas há identificações mais sérias entre Lacalle Pou e Aécio. A relação com o Mercosul é a mais valorizada pela mídia. Vitórias de Dilma e Tabaré tendem a reforçar o bloco, enquanto Aécio e o blanco pretendem abrir as portas para o mundo. Os dois têm em comum ainda, naturalmente, a crítica à ingerência do Estado na economia – a ingerência que assegurou em ambos os países, nos últimos anos, a ampliação de políticas sociais extensivas. Se eleito, Lacalle Pou bem que gostaria de revogar a lei que regulamentou o aborto no Uruguai em 2012 – desde então, nenhuma mulher morreu nos mais de 6,7 mil procedimentos realizados – e, claro, da produção e consumo de maconha.

Tal qual ocorre no Brasil, segurança é um dos temas prioritários na campanha. Embora a sensação de insegurança seja notável no Uruguai, o problema parece ser bem menos grave do que ocorre por aqui. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), a taxa de homicídios por ano e para cada cem mil habitantes no Brasil atingiu índice de 25,2 em 2013 – a terceira na América do Sul, atrás de Colômbia (30,8) e Venezuela (53,7). Sem dados atualizados da Argentina, o Uruguai ocupa a quarta posição, com índice de 7,9. A média do continente é superior a 20 pessoas assassinadas a cada cem mil habitantes.

A principal proposta para reduzir a criminalidade em terras da Banda Oriental, apoiada por Lacalle Pou e Bordaberry, é a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos. O projeto não tem apoio da Frente Ampla de Tabaré e Mujica. Nas ruas de Montevidéu, “no a la baja” é o slogan mais grafitado pelas paredes da cidade. Nas páginas dos jornais, como El Pais, a participação de menores em crimes violentos tem destaque constante, da mesma forma que homicídios sempre rendem bons textos aproximando jornalismo e literatura.

Em pesquisa divulgada no dia 15 de outubro, Tabaré e Lacalle se mantiveram estáveis em relação ao levantamento anterior, com 41% e 28%, respectivamente. Bordaberry, na esperança da virada, cresceu quatro pontos percentuais e atingiu 15% da preferência dos entrevistados. No Uruguai, não há horário eleitoral gratuito e Tabaré tem sistematicamente se recusado a participar de debates. No dia 13, o arcebispo de Montevidéu, Daniel Sturla, celebrou na catedral da cidade a Jornada de Oración por La Patria y los Futuros Gobernantes. Aproveitou a ocasião para pedir a realização de debates para a decisão do voto cidadão. Mujica estava lá. Tabaré, não.

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