300 anos de história

‘Não’ amplia vantagem nas pesquisas a um dia do referendo da Escócia

Pergunta que se fará é se a Escócia quer ficar ou se separar do Reino Unido

Andy Rain/efe

Em Edimburgo, comerciante coloca na vitrine doce confeccionado com base no tema

Edimburgo – Partidários e opositores da independência da Escócia fecham nesta quarta-feira (17) a campanha do referendo de amanhã, com vantagem de quatro pontos para o “não” nas últimas pesquisas e cerca de 10% de eleitores ainda indecisos.

Nas ruas de Edimburgo se respira excitação e nervosismo na véspera de uma consulta histórica que se espera que incite amanhã uma participação em massa, quase dois anos depois de os governos de Reino Unido e Escócia acertarem sua realização. Não é para menos, já que se ganhar o “sim”, seria o fim de 300 anos de história conjunta, representaria o nascimento de uma nova nação no seio da Europa, em março de 2016, e levaria ao fim de fato do Reino Unido.

Após uma campanha frenética e muito apertada, com enfrentamentos passionais e enquetes que foram aproximando posições entre ambos os lados, três pesquisas divulgadas hoje ampliam a 52% a vantagem do “não”, quatro pontos à frente do “sim”. Os dados dessas enquetes, publicadas nos jornais The Scotsman, Daily Mail e Daily Telegraph, excluem a porcentagem de indecisos, que oscilariam entre 14% e 8% e pode ser a chave do resultado.

Hoje, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, insistiu em que não renunciará mesmo que ganhe o “sim”, porque seu nome “não está na cédula”. Enquanto isso, vários deputados “tories” (de tendência conservadora) começam a criticá-lo por prometer mais autonomia à Escócia para que rejeite a separação.

“O que está na cédula de votação é se a Escócia quer ficar ou se separar do Reino Unido. Essa é a única pergunta que se decidirá na noite da quinta-feira. A questão sobre meu futuro será decidida nas eleições gerais britânicas que chegarão em breve, em maio de 2015”, afirmou o premier conservador.

Os líderes dos grandes partidos britânicos, que se opõem à secessão da Escócia, já não vão deixar-se ver em Edimburgo e deixaram hoje o protagonismo da campanha aos políticos locais.

O ministro principal escocês e promotor da consulta separatista, Alex Salmond, pediu hoje aos eleitores através de carta que votem em apoio à independência e insistiu que o novo país será aceito em instituições e organismos internacionais.

“Qualquer um que cria um país com 1% da população da UE, mas com 20% da pesca, 25% da energia renovável e 60% das reservas de petróleo não será bem-vindo na União Europeia; não entende o processo pelo qual Europa aceita resultados democráticos e, em segundo lugar, que a Escócia tem uma grande quantidade de atrativos para o resto do continente europeu”, argumentou o líder escocês.

No lado “Melhor juntos”, jogaram hoje os demais em um ato em Glasgow, a maior cidade escocesa, o ex-primeiro-ministro trabalhista Gordon Brown e o ex-titular de Economia Alistair Darling, que incidiram nos riscos econômicos da separação e em propor mais autonomia para a Escócia.

“A maioria silenciosa deixará amanhã de ser”, disse taxativo Gordon Brown, primeiro-ministro de 2007 a 2010 e atual deputado escocês na Câmara dos Comuns, que emergiu como principal figura no lado do “não”, perante as reservas que Cameron desperta em uma Escócia governada com políticas social-democratas.

Espera-se uma participação muito alta na consulta, com as urnas abertas amanhã durante 15 horas, das 6h às 21h (3h às 18h, em Brasília), para permitir que os escoceses consigam votar. Embora a apuração comece logo após o fechamento dos colégios dos 32 distritos eleitorais da região, o resultado será conhecido na sexta-feira no começo do dia, possivelmente depois das 6h (3h, em Brasília), segundo estimativas da Comissão Eleitoral.

Os votos serão contados um a um em um censo eleitoral composto por 4,28 milhões de residentes na Escócia maiores de 16 anos, que deverão marcar com uma “X” o “sim” ou o “não” em resposta a pergunta: “A Escócia deve ser um país independente?”.

Se ganhar o “sim” começaria imediatamente a transferência de poderes entre Londres e Edimburgo, cujo governo nacionalista anunciou que declararia a independência em 24 de março de 2016, data da assinatura da Ata da União em 1703 com a qual a Escócia se integrou ao Reino Unido.

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