São Paulo – Depois de 36 anos de busca, a presidenta da organização Avós da Praça de Maio, Estela Carlotto, encontrou nesta terça-feira (5) seu neto Guido, um pianista que, sem saber que era filho de desaparecidos na época da ditadura argentina, compôs a música Pela Memória, em homenagem às vítimas do regime autoritário (1976-1983). “Os porta-retratos já não estão mais vazios. Têm um rosto. E lindo. Eu vi. Ele é um bom rapaz”, disse Estela, em entrevista coletiva.

A filha de Estela, Laura, estava grávida quando foi sequestrada, torturada e assassinada. O corpo dela foi entregue à família em 1978,  mas o bebê que teve em um campo de concentração –  de olhos vendados e mãos algemadas – desapareceu. Guido Carlotto é o neto número 114 encontrado pelas Avós da Praça de Maio que, há quase 40 anos, buscam os filhos de seus filhos desaparecidos.

Estela ainda não encontrou  o neto, viu apenas uma foto de Guido que, para descobrir a própria origem, foi até a sede das Avós da Praça de Maio porque tinha dúvidas sobre o passado. Assim, fez o teste de sangue e comprovou que era filho de Laura.

“Encontrar um neto desaparecido é uma etapa. Integrar esse neto à família é outro processo”, disse, em entrevista à Agência Brasil, Abel Mandariaga. Ele é um dos poucos pais que encontraram seus filhos. “Temos que respeitar os tempos das vítimas. Não é fácil descobrir, aos 36 anos, que você não é quem pensava ser”, disse.

As Avós da Praça de Maio fizeram várias campanhas publicitárias para encontrar os netos. Recentemente, a publicidade mostrava uma mãe levando o filho ao hospital, deixando subentendido que, se o filho soubesse quem eram os verdadeiros pais e, consequentemente, a herança genética, poderia resolver rapidamente problemas de saúde.

Outra campanha, às vésperas da Copa, reuniu os craques do futebol argentino Mascherano e Messi. Eles pediram, em nome das Avós da Praça de Maio, que quem tivesse dúvidas sobre a origem se manifestasse. “Guido e muitos outros ligaram”, contou Mandariaga.

Estela festejou a descoberta de mais um neto. Ela tem 14 no total, além de dois bisnetos, mas sabe que ainda precisa encontrar mais de 300 crianças que desapareceram durante a ditadura.