Argentina

Desaparecido há 36 anos, neto de líder das Avós da Praça de Maio é encontrado

Christophe Karaba/EFE A filha de Estela foi morta em 1978. Desde então a avó buscava notícias sobre o paradeiro do neto Buenos Aires – O neto de Estela de Carlotto, […]

Christophe Karaba/EFE

A filha de Estela foi morta em 1978. Desde então a avó buscava notícias sobre o paradeiro do neto

Buenos Aires – O neto de Estela de Carlotto, líder das Avós de Praça de Maio, nascido em cativeiro e desaparecido desde 1978, durante a última ditadura argentina, teve sua verdadeira identidade confirmada após a divulgação do resultado de um exame de DNA ao qual se submeteu.

O filho da presidenta da organização, Guido Carlotto, revelou hoje (5) o resultado positivo do teste. Secretário de Direitos Humanos da província de Buenos Aires, Guido disse que seu sobrinho se apresentou voluntariamente para fazer o exame porque tinha dúvidas sobre sua verdadeira identidade. “Em breve tentaremos nos juntar a ele. Não posso falar da emoção”, afirmou.

O neto, o de número 114 que as Avós conseguiram recuperar, é filho de Laura Carlotto, que estava grávida quando foi detida, em novembro de 1977, durante a ditadura, e levada ao centro clandestino de detenção de “La Cacha”, na cidade de La Plata (60 quilômetros ao sul de Buenos Aires).

Laura deu à luz um menino que nasceu em cativeiro em 26 de junho de 1978 e ao qual chamou Guido.

O corpo da filha de Estela de Carlotto foi encontrado sem vida e entregue a sua mãe no mesmo dia de seu assassinato, mas o menino não foi achado, e a busca levou a avó, hoje com 83 anos, a ser uma das fundadoras da associação. “Estamos pensando em Laura, minha irmã, e na luta das Avós. Hoje nos tocou este momento de felicidade”, declarou o hoje deputado.

No dia 4 de junho, Estela prestou depoimento à Justiça pelo desaparecimento de sua filha Laura em um julgamento por crimes contra a humanidade.“Eu tenho 13 netos, mas me falta Guido”, ressaltou na época a ativista, que também pediu aos repressores para que tivessem “a coragem de dizer” onde estão os filhos dos desaparecidos.

A autópsia realizada anos depois do assassinato revelou que Laura tinha balas alojadas no crânio. Por isso se supõe que foi executada com uma arma disparada a 30 centímetros pelas costas.

Formada em Magistério, profissão que exerceu durante 17 anos, Estela de Carlotto se incorporou em 1978 ao recém-fundado grupo de Avós da Praça de Maio, e dois anos depois foi nomeada vice-presidenta.

Em 1987, sobre a base de um projeto da organização, foi aprovada uma lei que criou um Banco Nacional de Dados Genéticos. Nele ficou registrado o mapa genético de cada uma das avós de Praça de Maio.

Em dezembro de 1998, o parlamento argentino aprovou a Lei de Criação do Fundo de Reparação Histórica para a localização e restituição de crianças roubadas, que outorgava ao grupo Avós de Praça de Maio um subsídio que equivalia na época a US$ 25 mil mensais durante dois anos. Em 2004, o fundo foi restabelecido com um subsídio mensal de 15 mil pesos (US$ 3,9 mil).

Estela recebeu em nome da associação que preside, em 1999, o Prêmio de Direitos Humanos da República Francesa. Entre várias outras honrarias recebidas, se destaca o Prêmio dos Direitos Humanos da ONU, concedido em dezembro de 2003.

Em outubro de 2005 ela foi nomeada doutora honoris causa pela Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), e em 2006 as Avós foram candidatas ao prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia.

A ativista participou de vários filmes sobre a repressão da ditadura, e promoveu o Teatro pela Identidade, que visa a conscientizar sobre a busca de crianças que foram roubadas de seus pais durante o regime repressor.

Em maio de 2003, ela pôde comemorar a derrubada no parlamento das leis de Ponto Final e Obediência Devida, que livravam de responsabilidade mais de mil agentes do regime militar e que em 2005 também foram declaradas nulas pela Corte Suprema de Justiça.

Outra conquista veio em 2004, quando o governo argentino decidiu transformar o edifício onde funcionava a Escola Superior de Mecânica da Marinha de Buenos Aires, o mais conhecido dos centros clandestinos de detenção que funcionou durante a ditadura militar, em um museu da memória.

Leia também

Últimas notícias