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Criação de banco dos Brics é saudada como fim da ‘ferramenta extorsiva’ do FMI

Argentina, que poderá se valer do financiamento da instituição multilateral, celebra alternativa à instituição monetária controlada por EUA e Europa. Vannuchi vê 'saída estratégica indispensável'

Roberto Stuckert Filho/PR

Os chefes de governo estão discutindo políticas econômicas e trabalhistas dos cinco países

São Paulo – A criação de um banco de desenvolvimento pelos países dos Brics foi recebida com otimismo e elogios. A avaliação é de que a iniciativa oferece um contraponto ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), entidades publicamente criticadas pela imposição de regras nocivas às populações dos países devedores e pela centralização da tomada de decisões.

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul anunciaram a decisão durante a cúpula realizada entre ontem (14) e amanhã, em Fortaleza e Brasília, com um aporte inicial de US$ 50 bilhões e meta de chegar nos próximos anos a US$ 100 bilhões. A medida vem na esteira de uma série de tentativas fracassadas destes países de mudar a distribuição de poder dentro do Banco Mundial e do FMI, manejados de maneira central por Estados Unidos e União Europeia.

Para o cientista político Paulo Vannuchi, da Rádio Brasil Atual, a criação de um banco de desenvolvimento próprio dos Brics tem um simbolismo político “muito” grande. “É uma maneira de dizer que não aceitamos mais o domínio do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional”, afirma em seu comentário de hoje (15).

“É uma saída estratégica indispensável porque é uma maneira de dizer que nós não precisamos ficar dependendo dessa fonte única de investimento”, avaliou Vannuchi. “Os Estados Unidos e a União Europeia já têm muita riqueza, não precisam de manejar ao seu bel-prazer os organismos de financiamento mundial, e agora passam a ter um concorrente.” Além disso, o cientista político ressalta que os países de América Latina, Ásia e África poderão se associar ao banco dos Brics.

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Hoje, o governo da Argentina elogiou a iniciativa, saudada como a criação de uma fonte alternativa fundamental. O país renegociou durante o governo Néstor Kirchner (2003-2007) a dívida com o FMI, instituição vista como responsável pelas políticas recessivas que levaram a uma ampliação massiva da pobreza e do desemprego durante os governos Carlos Menem e Fernando de la Rúa.

“Necessitamos de bancos de desenvolvimento que se erijam como ferramentas para o financiamento de obras de infraestrutura, para aumentar competitividade, não os bancos de desenvolvimento como ferramenta extorsiva dos países mais desenvolvidos”, disse o chefe de gabinete de Cristina Fernández de Kirchner, Jorge Capitanich, durante entrevista coletiva em Buenos Aires.

O convite da cúpula dos Brics à presidenta da Argentina, para que participe da reunião, sinaliza apoio frente à crise econômica que o país está vivendo. O país sofreu revés recentemente com decisão judicial dos Estados Unidos determinando que se pague 100% do valor dos títulos não renegociados para os seus credores especulativos, ainda fruto das crises vividas na virada do século. “A Argentina pode recorrer ao fundo desse banco, via Brasil, para ter instrumentos de reação contra esse ataque norte-americano, do cassino financeiro mundial, contra a sua soberania”, afirma Vannuchi.

Ação sindical

Durante reunião da cúpula dos Brics, entidades sindicais dos cinco países entregam hoje (15) documento com reivindicações trabalhistas. A intenção das centrais é unificar a pauta dos trabalhadores e participar das decisões dos governos.

Presidente eleito da Confederação Sindical Internacional (CSI) e secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício afirma que as centrais não aceitam que os governos se reúnam e tomem decisões sem ouvir os movimentos sindicais. “Quando os países se reúnem eles acabam debatendo questões econômicas, mercado de trabalho, exportação, importação, condição de vida dos povos desses países”, disse, em entrevista à TVT.

Além disso, Felício ressalta que 40% da população mundial vive nos Brics, e por isso é importante que trabalhadores participem da tomada de decisões do bloco. “Nós queremos discutir a situação de vida dos trabalhadores em cada país, a evolução funcional dos trabalhadores nesses países, as relações dos movimentos sindicais com os governos, as condições de vida e trabalho.” Além de reivindicações trabalhistas, as centrais querem interferir nos direitos previdenciários.

Para o presidente da UGT, Ricardo Patah, os países emergentes têm um problema “muito sério” na tentativa de flexibilização das legislações trabalhistas. “A somatória e a boa vontade das atividades sindicais desses países poderão fazer com que os Brics saiam desse contexto de papel e de construção de um banco e das questões de exportar e importar, para buscar um olhar importantíssimo do trabalhador.”

CUT, UGT,  CTB), Força Sindical, CGTB e Nova Central, junto com quatro centrais da África do Sul, duas da Índia, uma da China e uma da Rússia, integram o grupo de ação sindical dos Brics.

Ouça o comentário do Paulo Vannuchi para a Rádio Brasil Atual.

Assista à reportagem da TVT:

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