Em Brasília

Dilma ironiza imprensa que nega sucesso da Copa: ‘É não perceber a própria realidade’

Ao comentar manchetes sobre cúpula dos Brics, presidenta diz que, se mídia se recusar a reconhecer êxito do Mundial, estaremos 'diante de uma situação grave'

José Cruz/Agência Brasil
José Cruz/Agência Brasil
Dilma recebeu 17 chefes de Estado ou governo na cúpula dos Brics, em 2014 (José Cruz/Agência Brasil)
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Presidenta recebeu 17 chefes de Estado ou governo no segundo dia da cúpula dos Brics em Brasília

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff ironizou hoje (16), em entrevista coletiva em Brasília, postura considerada pessimista em parte da imprensa nacional. Durante a conversa, em meio a risos, ela abordou por duas vezes o tratamento dado por empresas midiáticas a questões que considera exitosas em seu governo.

Na entrevista, Dilma foi questionada sobre quando começará a fazer a campanha eleitoral. “Sou obrigada a ter duas atividades. Uma é como presidente, que se sobrepõe à outra (candidata) necessariamente. Vou fazer campanha quando estiver no momento em que eu possa.”

Ao ser questionada se iniciará a campanha “na semana que vem” e se ainda “não deu tempo” para isso, novamente usou de bom humor para falar sobre o acúmulo de tarefas decorrentes da Copa do Mundo e em seguida da reunião de cúpula dos Brics. “Não sei o que vocês acham, mas imagino que vocês devem achar que (a Copa) foi muito bem sucedida, porque se vocês não achassem isso nós estaríamos diante de uma situação muito grave, que é não perceber a própria realidade”, disse. “Se vocês olharem a quantidade de aviões que subiram e desceram sem atraso (durante a Copa), abaixo inclusive do padrão internacional, se olharem todas as atividades na área de segurança, na garantia do trânsito adequado das seleções, dos turistas, e de toda a imensa estrutura que foi montada para essa Copa ser o sucesso que foi, vocês saberiam que eu saio disso e entro nos Brics, que também requer todo um cuidado.”

A conversa girou em torno da 6ª Reunião de Cúpula dos Brics, realizada esta semana em Fortaleza e Brasília. O Palácio do Planalto recebe hoje, no segundo dia de discussões, 17 chefes de Estado ou de governo, incluindo os cinco mandatários de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

A respeito do tema, Dilma ironizou as manchetes dos três principais jornais impressos do país sobre os resultados da cúpula. Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo afirmaram em suas principais chamadas de capa que o Brasil “cedeu” a presidência do banco dos Brics à Índia para que a nova instituição financeira multilateral, anunciada ontem e gerida por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, fosse viabilizada. “O Brasil não cedeu porque não é dono”, afirmou, de bom humor, antes de começar a rir. “Eu acho fantástico. Acho isso típico do Brasil. Se a gente tivesse ficado com a primeira vice-presidência a imprensa hoje estaria dizendo: ‘Brasil perdeu a sede’.”

Em seguida, explicou a estrutura organizacional do novo banco. “Trata-se de um banco gerido por um conselho de administração que o Brasil preside. E por um conselho de ministros que a Rússia preside, com um presidente que a Índia tem e localizado na China, com escritórios nos dois continentes, tanto na África como na América Latina.”

A presidenta continuou ironizando ao explicar que os países dos Brics têm uma maneira particular de se relacionar. “Não sei se vocês sabem, mas nós temos uma forma Brics de falar e fazer a alternância na direção da cúpula. Temos essa forma rotativa de gestão. Optamos sempre por um padrão igualitário, em que todos os países têm o direito de assumir a direção. Então é absolutamente inadequado avaliar o resultado dessa cúpula assim.”

O banco dos Brics será presidido inicialmente por um indiano e sua sede definitiva será em Xangai. Mais tarde, em entrevista concedida à emissora de televisão chinesa CCTV, Dilma falou da parceria entre Brasil e China. “Hoje, a China é nosso maior parceiro comercial. A China, também, é um grande investidor aqui no Brasil. E o Brasil quer também ter uma presença na China, e hoje temos algumas empresas brasileiras presentes na China.”

A presidenta explicou que o banco dos Brics “não tem um país com poder acionário maior que outro”. “Essa é a realidade”, afirmou, repetindo a fala do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ontem. Ela voltou a dizer também que o Brasil não está abrindo mão, “de maneira alguma”,  de outros organismos multilaterais e que o Fundo Monetário Internacional não foi adaptado para corresponder às novas correlações de forças econômicas do mundo.

“Um dos pontos de pauta de ontem foi o problema da reforma acertada no G20 sobre as instituições financeiras multilaterais como o FMI, por exemplo. Porque, na distribuição de cotas do FMI, não tem refletido o poder, a correlação de forças econômicas que integram o G20. Reivindicamos do FMI que haja aquilo que foi acertado quando da criação do G20, e nas crises de 2007 e 2008 foi acertado que haveria essa adequação, que a representação econômica seria refletida no acordo de cotas”, esclareceu a presidenta. “Não temos o menor interesse em abrir mão do Fundo Monetário. Pelo contrário, nós temos interesse em democratizá-lo.”

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